Título: UE faz pressão para reduzir oferta de açúcar
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Agronegócios, p. B13

A União Européia (UE) colocou na quinta-feira mais pressão sobre os produtores de açúcar do bloco para conseguir cortar 6 milhões de toneladas na produção européia até 2010. Para alcançar o objetivo, Bruxelas advertiu os fabricantes que eles precisam abandonar voluntariamente a produção de mais 1,16 milhão de toneladas antes de 31 de março. Do contrário, vão ter de fazê-lo obrigatoriamente e sem indenizações dentro de um ano e meio.

Nas contas da UE, a Alemanha precisa cortar a produção em mais 304 mil toneladas, a França em 285 mil, a Polônia em 150 mil. Dos 27 países-membros, somente a Itália, que já aceitou reduzir em 1 milhão de toneladas, não precisa renunciar mais a quotas de produção.

O objetivo é conseguir um mercado equilibrado com produção em torno de 12 milhões de toneladas. Antes de perder o processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) para o Brasil, Austrália e Tailândia, o bloco produzia 18 milhões de toneladas impulsionados por subsídios. Até agora, 4,8 milhões de toneladas foram renunciadas pelo plano de reestruturação: 2,2 milhões em 2006/07, 2,5 milhões na primeira fase para 2008/09, e 100 mil toneladas para a segunda fase de 2008/09.

A UE se diz esperançosa de chegar "quase"' ao montante fixado até 31 de março, graças a alta indenização anunciada ano passado. A indústria açucareira recebe ? 625 euros por tonelada abandonada e, o produtor, ? 237 euros.

Jean-Louis Barjol, secretário-geral do Comitê Europeu de Produtores de Açúcar (CEFS), disse ao Valor que o setor está fazendo sua parte - 74 usinas já foram fechadas na Europa pelo plano de reestruturação. "Agora é sim a vez de a UE fazer sua parte e não apresentar concessões sobre o açúcar na Rodada Doha", afirmou. Ele considera uma "provocação" a demanda do Grupo de Cairns, grupo de exportadores liderado pela Austrália, para incluir o açúcar na lista de produtos tropicais para ter tarifa substancialmente reduzida nos mercados industrializados.

Os europeus também querem manter salvaguarda especial agrícola, para poderem aumentar a tarifa por período temporário para frear grande alta das importações de açúcar que ameaça a produção local.

O Brasil e outros exportadores recusam a manutenção dessa salvaguarda num futuro acordo agrícola global. Mas Barjol estima que a UE não tem condições de ceder nos dois pontos na OMC a um ano de eleições parlamentares européias. "A UE não tem como justificar mais concessões depois do fechamento de um terço do setor industrial açucareiro europeu", afirma.

Em Genebra, negociadores brasileiros constataram que a delegação européia na OMC parece de mãos amarradas e sem condições de fazer movimentos para estimular a negociação global.

O plano de reestruturação do setor açucareiro coincidiu com a derrota européia contra o Brasil em uma disputa na OMC.

A UE foi obrigada pela OMC a limitar suas exportações a 1,374 milhão de toneladas, conforme acordo fixado na Rodada Uruguai. Antes, exportava no total entre 3 milhões e 7 milhões de toneladas, dependendo do ano. "Passaremos de segundo exportador mundial a importador líquido", afirmou Michael Mann, porta-voz agrícola da UE.

Os europeus acreditam que o Brasil é o maior beneficiado com a redução da oferta de açúcar europeu no mercado mundial. Mas não na própria UE, porque o bloco aumentará substancialmente as importações procedentes de países da África, Caribe e Pacifico (ACP), essencialmente ex-colônias européias.

Atualmente, a UE já importa quase três milhões de toneladas desses países. A partir de 2009, eles poderão exportar açúcar livremente, sem tarifas, para os 27 países do bloco comunitário.

É sem surpresa que na segunda-feira, fabricantes europeus e países ACP vão divulgar uma carta aberta, insistindo para a UE rejeitar demandas de concessões para entrada de açúcar de outras regiões.