Título: Ano promete disputa no middle
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Finanças, p. C1

A demanda por crédito se mantém aquecida, conforme dados do Banco Central, e o segmento que promete maior disputa neste ano é o de empresas de pequeno e médio porte, chamado de middle market. Os grandes bancos tentam repetir a alta rentabilidade do ano passado, enquanto as instituições de médio porte, que sempre apostaram nesse nicho, estão capitalizados com as aberturas de capital.

A investida não é recente. Somando a carteira de crédito dos maiores bancos com participação no segmento, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Unibanco, Banco Real e Votorantim, o volume supera os R$ 136 bilhões, com crescimento da ordem de 41% em 2007 (superior ao avanço médio do crédito, 27,3%).

Por outro lado, os bancos de médio porte cresceram 74% no ano passado. Dez dos bancos que já divulgaram resultado somam carteira superior a R$ 20 bilhões.

"O crescimento abriu os olhos de todos os bancos. Todos estão investindo nessa área", disse Altair Assumpção, executivo do Banco Real. Com a falta de oportunidades no mercado de capitais, até mesmo bancos estrangeiros, antes com foco exclusivo nas grandes empresas, já começam a olhar para as médias, disse.

Milto Bardini, presidente do BicBanco, que possui a maior carteira entre os bancos médios (R$ 6,8 bilhões), afirma que de fato a concorrência aumentou, mas o crescimento econômico permite também que um maior número de empresas tenha acesso ao credito. "O bolo também cresceu".

Ele pondera ainda que os clientes do segmento não mantêm relacionamentos com apenas um banco. "Os empresários sabem da importância estratégica de não concentrar riscos em um só lugar".

O que atrai a atenção dos bancos para empresas com faturamento entre R$ 10 milhões e R$ 200 milhões é a rentabilidade que esse nicho oferece, com spreads (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados) mais altos e inadimplência baixa.

As formas de utilização das garantias também se sofisticaram e permitiram maior segurança aos bancos, afirma Henrique Vianna, diretor do HSBC, que ampliou as plataformas de atendimento de 40 para 65 no ano passado.

A linha mais demandada ainda é o capital de giro, principal base do relacionamento. Mas a substituição dos recebíveis de cheque pelos de cartão de crédito deu novo fôlego ao segmento.

A mudança permitiu aos bancos estruturarem operações de desconto de cartões, ou mesmo de capital de giro com lastro nesses recebíveis (mais confiáveis do que o cheque), disse Vianna.

Ademir Cossiello, do Bradesco, afirma que a essa substituição diminuiu os riscos das operações com empresas, reduzindo os custos dos empréstimos.

Linhas para investimentos ainda são dominadas pelos repasses do BNDES e pelo leasing, mas já há operações estruturadas e linhas de capital de giro de seis anos.

Na disputa por espaço, os grandes bancos têm serviços bancários para oferecer, que agregam valor e ajudam a compor o "mix" de receita para oferecer taxas de juros menores (além do funding mais barato).

Já os bancos médios são mais rápidos na concessão, realizando operações que os grandes têm mais dificuldade, disse o diretor do Sofisa, Gilberto Meiches. Além disso, dez desses bancos estrearam na bolsa em 2007, captando R$ 4,8 bilhões em ofertas primárias. Os recursos servem para ampliar o crédito, reduzir os custos de captação e expandir as agências.

O segmento de pequenas e médias empresas representa de 70% a 90% das carteiras dos bancos médios, enquanto nos grandes a participação está entre 15% e 30% da carteira total. Essa fatia vem crescendo à medida que cai a parcela de grande empresas.

Mas os bancos não descartam crescer também nesse segmento, chamado de corporate. Com as dificuldades de captação externa, devido à crise do subprime, há uma perspectiva de aumento da demanda por crédito dentro do país, afirma o executivo do Santander, Luiz Cantidio.