Título: Companhias abrem o caixa para investimento
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Empresas &, p. B1

As principais companhias abertas do país devem realizar em 2005 uma rodada significativa de investimentos em modernização, manutenção ou aumento da capacidade produtiva. Segundo projeção elaborada pela equipe de análise setorial da corretora Ágora Sênior, a maior do mercado local, as empresas devem elevar em pelo menos 12% os investimentos este ano, totalizando cerca de R$ 55 bilhões, enquanto no ano passado esse mesmo valor era de R$ 49,3 bilhões. O trabalho foi realizado com os dados de 38 companhias, as principais dos 11 setores acompanhadas pelos analistas da corretora. Segundo o estudo, os investimentos vêm numa trajetória ascendente desde 2003, quando somaram cerca de R$ 44 bilhões. As projeções apontam que, em 2006, esses valores podem começar a ser menores do que serão em 2005, o que significa que este ano pode ser o pico do ciclo.

Na visão dos especialistas, o aumento do investimento ocorrerá não somente em função da confiança gerada com a retomada da economia iniciada no ano passado, sendo também mais localizada em setores que foram beneficiados por uma excelente geração de caixa líquido no exercício de 2004. Neste último caso, enquadram-se a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Perdigão. O chefe da área de análises da Ágora Sênior, Marco Mello, explica que o trabalho foi feito com base em dados divulgados ou coletados junto às próprias companhias e em métodos de projeção. "Em alguns casos, a empresa divulga que fará um montante tal de investimentos nos próximos anos, então fazemos as projeções de quanto será em cada ano, baseado nos demais dados que monitoramos da companhia", diz Mello. Dos setores pesquisados, alimentos, mineração, energia elétrica e fumo são os que devem registrar a maior elevação nos investimentos de 2005 em relação ao ano passado. Os setores de petróleo, petroquímicos, consumo e bebidas também devem apresentar algum incremento, mas, na contramão, é esperado um investimento menor neste ano nos setores de telecomunicações, aviação e siderurgia. No setor de energia elétrica, grande parte dos aportes serão feitos pela Eletrobrás, que vai investir R$ 4,64 bilhões em 2005, cerca de 22% mais que em 2004. Deste total, R$ 1,8 bilhão será destinado à área de transmissão; R$ 1,8 bilhão, para geração; e outros R$ 130 milhões para distribuição. O saldo será usado em projetos de fundos setoriais, pesquisa e meio ambiente. "Os investimentos previstos para 2005 são destinados basicamente às obras que estão em andamento nas nossas subsidiárias, especificamente, no caso da geração, à motorização da segunda etapa de Tucuruí", diz o presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau. "Mas os investimentos podem ser até maiores, dependendo da posição das empresas do grupo Eletrobrás no leilão de energia nova", completa. Mesmo setores já considerados maduros, como o de fumo, têm investimentos programados e vão se beneficiar do caixa gordo para promovê-los. Segundo o diretor financeiro da Souza Cruz, Dante Letti, a companhia planeja aplicar recursos da ordem de US$ 100 milhões nos próximos anos. "Boa parte será investida na transferência do centro de pesquisa e desenvolvimento do Rio para Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre", diz Letti, lembrando ainda que US$ 20 milhões fazem parte do investimento fixo anual em manutenção. A mudança para o Sul permitirá a união de áreas hoje fragmentadas em dois pontos, o que deve gerar sinergia para a Souza Cruz. Em termos de volume de recursos, a Petrobras é imbatível. Os US$ 8 bilhões (convertidos por um dólar médio de R$ 2,9 pelo estudo, cerca de R$ 23,2 bilhões) previstos para 2005 representam quase metade do total de todas as companhias pesquisadas. De acordo com as informações divulgadas pela companhia, a maior parte do orçamento, cerca de US$ 5 bilhões, deverá ser utilizada para engrossar as atividades de exploração e produção de petróleo e gás. O objetivo é elevar a produção, que teve uma queda de 3% em 2004, e alcançar uma média de 1,77 milhão de barris/dia no fim deste ano. Em 2004, essa mesma média ficou em 1,55 milhão de barris/dia. Mas o setor que deve elevar mais agressivamente os investimentos em 2005 é o de alimentos. As duas principais companhias do setor, Sadia e Perdigão, já anunciaram seus orçamentos para este ano, que devem somar o dobro do total aplicado em 2004. Os recursos serão destinados à expansão ou novas instalações fabris. "Essas empresas estão se preparando para uma demanda maior no mercado interno", diz Alexandre Garcia, analista da Ágora Sênior. A Sadia vai investir R$ 500 milhões, mais que o dobro dos R$ 220 milhões estimados em 2004. A Perdigão já tem garantidos pelo menos R$ 150 milhões em 2005, quase 70% a mais do total investido no ano passado.