Título: Previdência popular
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Investimentos, p. D1

Aplicar em previdência privada foi, por muito tempo, um sonho restrito à classe média. Mas, de uns tempos para cá, está cada vez mais fácil para qualquer pessoa começar a investir, independentemente da renda. Quando lançados, o PGBL e o VGBL costumavam exigir aplicações mínimas de alguns milhares de reais. Isso encabulava mais as pessoas com pouco dinheiro para investir, porque exigia delas um projeto de longuíssimo prazo. Atualmente, porém, as seguradoras estão derrubando os tíquetes mínimos para que qualquer um possa começar a aplicar. A Brasilprev, seguradora que aceita valores mais baixos, acata aportes mensais a partir de R$ 25,00, no caso dos planos para menores de idade.

Entre as demais seguradoras, em geral, os valores mínimos aceitos no varejo já não passam de R$ 100 por mês. Para quem quer fazer aporte único, o piso aceito normalmente já está em R$ 1 mil.

Um dos principais propulsores do crescimento da previdência privada daqui para frente será a expansão de investimentos para novas classes, que ainda não acessam o setor, prevê Tarcísio Godoy, presidente da Brasilprev. "Queremos motivar em breve a aplicação por parte de pessoas das classes C e D, com produtos mais simples."

Atualmente, a Itaú Vida e Previdência discute a redução do valor mínimo aceito em alguns dos seus planos de previdência para R$ 35. A idéia por trás desse movimento é similar à da Brasilprev, ou seja, aproveitar a capilaridade dos bancos a que as seguradoras são ligadas e estimular a aquisição dos planos pela clientela de baixa renda. A Porto Seguro, que acaba de lançar planos com renda variável também para a baixa renda, pensava inicialmente em reduzir o valor para R$ 100,00 e acabou por optar por R$ 50,00.

Aplicar pouco também pode ser uma oportunidade para os investidores com mais dinheiro experimentarem a previdência privada. Seria uma chance de testar o funcionamento do sistema sem comprometer parcela significativa do patrimônio.

O aplicador que investir menos de R$ 100 por mês na previdência privada deve estar atento, porém, aos elevados encargos cobrados pelas seguradoras. A taxa de administração dos fundos de previdência segue a lógica dos fundos de investimento, ou seja, quanto menor a aplicação, maior o custo, e vice-versa. Porém, na previdência privada, há um problema adicional para quem aplicar pouco: a taxa de carregamento sobre os aportes.

Em certos planos da Bradesco Vida e Previdência, por exemplo, o investidor pagará 5% de cada valor aplicado até juntar a quantia de R$ 12 mil no fundo. Esse carregamento cairá escalonadamente até 1,5%, se o participante tiver mais de R$ 50 mil no plano. As demais seguradoras costumam operar da mesma forma e é possível encontrar quem passe a isentar o cliente do carregamento se o volume aplicado subir muito. Outras, como a SulAmérica, cobram essa taxa nos resgates, podendo também cair a zero conforme o prazo da aplicação.

Segundo Antonio Cássio dos Santos, presidente da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), ainda há uma expectativa de que, neste ano, o governo regule os planos VGBL especiais de saúde e educação, que darão mais vantagens tributárias para quem for usar os recursos nessas finalidades. A expectativa é de que, com esse apelo, será mais fácil atingir as classes mais populares.

Avançar no segmento de menor renda é uma das estratégias do setor para continuar a crescer acima de 10% ao ano, como nos últimos cinco anos. Em janeiro, houve redução na captação dos PGBL e VGBL em relação ao mesmo mês de 2007, segundo o site Fortuna, o que mostra que a disparada da previdência privada pode estar próxima de um arrefecimento.

No entanto, para Godoy, da Brasilprev, o nível de educação do brasileiro dá sinais de que, com boas condições, mesmo os menos abastados ganham interesse pela previdência privada. Assim, a idéia é simplificar ao máximo as regras dos complexos planos. A Brasilprev, por exemplo, lança na segunda-feira o plano ciclo de vida, que ajusta a parcela de renda variável conforme o participante se aproxima da data de aposentadoria, com aportes a partir de R$ 25. "A gestão fica mais fácil, porque o participante não tem de ficar saindo de um para outro plano."

Alguns executivos de seguradoras, porém, têm uma visão diferenciada sobre a popularização da previdência privada. Há quem diga que, para pessoas de menor renda, seria mais interessante como medida de proteção de patrimônio familia a aquisição de um seguro de vida. Os seguros costumam custar menos do que a aplicação mínima dos planos de previdência e oferecer cobertura maior, mas não há acumulação e formação de patrimônio. Algumas companhias, como o Itaú, oferecem um produto conjugado, de seguro de vida com previdência.