Título: O ciclo é sustentável, diz ex-ministro de FHC
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2008, Brasil, p. A3

A economia brasileira está ingressando, sim, num ciclo de crescimento sustentável, acredita Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso. A solidez das contas externas foi o que deu ao país o primeiro passaporte para inaugurar essa nova etapa, deixando para trás os pequenos surtos de crescimento que marcaram as duas últimas décadas, os "vôos de galinha", que não raro terminavam numa crise cambial.

E a chave para o ajuste brutal nas contas externas brasileiras foi a China. Afinal, é de lá que vem a enorme demanda por commodities e é o crescimento asiático que sustenta alta de preços de 60, 70% em algumas dessas commodities exportadas pelo Brasil. Soma-se a isso, agora, o novo horizonte de produção de petróleo que vai transformar o país, em poucos anos, em exportador, pontua ele.

" Os preços de commodities devem continuar elevados em 2008, mantendo os termos de troca favoráveis. Esse é o pilar mais importante do cenário para as contas externas", avalia. Mendonça de Barros, com essa análise, destoa da grande maioria dos economistas que participaram do governo FHC e que enxergam grandes riscos na recessão americana, cujos efeitos poderiam comprometer a trajetória de crescimento do Brasil. "Há um novo mundo onde a Ásia é pólo dinâmico", sintetiza, relativizando os efeitos da recessão americana para as demais economias.

"A economia brasileira é, agora, um foguete que venceu as forças gravitacionais e atravessou a atmosfera", ilustra Mendonça de Barros, em conversa com o Valor.

"O forte crescimento do consumo no Brasil e a redução da volatilidade macroeconômica são fatores positivos para o investimento e este ciclo parece ser longo e mais confiável que no passado", escreve ele num estudo recentemente concluído, onde também aponta o papel das contas externas na criação desse novo ciclo. " O papel do setor externo é cada vez mais relevante. Sem a participação das importações não se poderia sustentar o forte crescimento da demanda doméstica (consumo e investimento)".

Isso não significa ausência de problemas e riscos. As incertezas a respeito da dinâmica da inflação doméstica e a pressão inexorável do crescimento do consumo sobre os preços dos bens não comercializáveis deverão levar o Banco Central a aumentar a taxa de juros nos próximos meses. O que acentuará ainda mais a valorização da taxa de câmbio que, segundo ele, pode chegar a cotação de R$ 1,50 ao final deste ano. Isso, ao mesmo tempo em que a chegada do "grau de investimento", em pouco tempo, produzirá mais ingresso de dólares no país. O crescimento econômico do Brasil este ano, porém, continuará alto, perto de 4,5%, com expansão de consumo de 6% e do investimento, de 12%, estima Mendonça de Barros.