Título: Está cada vez mais difícil para Hillary barrar Obama
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2008, Internacional, p. A11

A batalha que a senadora Hillary Clinton trava com o senador Barack Obama pela liderança do Partido Democrata na corrida presidencial americana atingirá nesta semana uma etapa crucial, em que a capacidade da ex-primeira-dama de barrar o avanço do rival passará por uma prova decisiva.

Os democratas irão às urnas amanhã em quatro Estados para se manifestar no processo de seleção do candidato que representará o partido na eleição de novembro. De acordo com as pesquisas mais recentes, Hillary e Obama estão praticamente empatados nos dois maiores Estados, Texas e Ohio. Obama está ganhando votos em nichos do eleitorado que pareciam comprometidos com Hillary, conquistando o apoio de mulheres e trabalhadores com baixa escolaridade. Ele ultrapassou Hillary no Texas e em poucos dias fez virar fumaça a expressiva vantagem que ela tinha em Ohio, reduzindo-a a menos de cinco pontos percentuais.

Uma derrota amanhã representará um golpe doloroso para Hillary. Muitos analistas acreditam que será o fim de suas aspirações presidenciais. Alguns acham que ela terá fôlego para continuar brigando se vencer Obama, mesmo se a diferença for pequena como as pesquisas sugerem. Mas a maioria acha que uma vitória apertada só reforçaria as dúvidas sobre sua capacidade de deter o adversário.

Obama acumula dez vitórias seguidas nos Estados que foram às urnas nas últimas duas semanas. Hillary não ganha uma desde o início de fevereiro, quando derrotou Obama em Nova York, na Califórnia e em outros Estados menores. Hillary arrecadou em fevereiro US$ 32 milhões para reforçar sua campanha. Obama recebeu mais de US$ 50 milhões em doações.

De acordo com projeções da agência de notícias Associated Press, Obama já assegurou o apoio de 1.378 dos 2.025 delegados necessários para ter a maioria dos votos na convenção nacional em que os democratas indicarão formalmente seu candidato, em agosto. Hillary tem 1.212 delegados. Há 444 delegados em jogo para os democratas nas prévias de amanhã. Como a distribuição dos delegados é proporcional à votação obtida pelos candidatos e a disputa entre Hillary e Obama está muito apertada, ele provavelmente continuará na frente mesmo se Hillary vencer amanhã. Quanto mais tempo Obama conservar essa vantagem, mais difícil será para Hillary convencer os democratas de que tem condições de seguir lutando.

Líderes partidários que estavam fechados com ela começaram a trocar de camisa, como o deputado John Lewis, veterano do movimento que acabou com a segregação racial na década de 60. Outros começaram a manifestar seu desconforto com o prolongamento de uma disputa partidária que a maioria esperava que tivesse acabado há um mês. Fora Hillary e seus aliados, ninguém parece interessado em estender a refrega até a convenção de agosto, o que transformaria um evento planejado para ser a celebração da unidade partidária em palco de feroz batalha.

Se Hillary for mal nas urnas amanhã e insistir em manter sua candidatura, a pressão para que ela desista deverá aumentar. O próximo Estado importante a votar será a Pensilvânia, onde Hillary é bem vista pelo eleitorado. Mas os democratas só farão suas prévias ali em 22 de abril e prolongar a indefinição por mais sete semanas pode ser prejudicial à imagem do partido. Muitos observadores acreditam que seria um desperdício de tempo e dinheiro. O fascínio que o carisma de Obama e suas promessas de mudança têm exercido sobre o eleitorado parecem ter tornado inofensivos os ataques de Hillary, que em seus comícios descreve o rival como um político inexperiente e despreparado para governar os EUA.

Seus esforços para recuperar a sintonia com o eleitorado têm incluído apelos cada vez mais emocionais. "Quem irá lembrar do olhar no seu rosto e da preocupação no seu coração depois que a eleição terminar?", perguntou no sábado o ex-presidente Bill Clinton, ao encerrar um comício. Muitas pessoas ainda acham que Hillary é a resposta, mas nos últimos dias simpatizantes têm mudado de idéia. "Às vezes sinto que estou cometendo uma traição por não votar numa mulher, mas acredito que chegou a hora de mudar as coisas para valer", diz a corretora de imóveis Jan Ols, 41. Ela decidiu votar em Obama há uma semana e no último sábado bateu na porta de 30 vizinhos para pedir que façam o mesmo amanhã.