Título: Swiss Re quer Brasil sem loucura
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Fonte: Valor Econômico, 03/03/2008, Finanças, p. C12

A Swiss Re, a maior resseguradora do mundo, quer ter participação importante no mercado brasileiro que será aberto à concorrência estrangeira em abril, mas sem fazer "loucuras", diz Michel M. Lies, membro do comitê executivo e chefe global de mercados.

Em entrevista ao Valor, ele definiu o objetivo no país: ter no mínimo 20% no segmento vida e mais de 10% no de não-vida, dentro de três a cinco anos, para alcançar o mesmo nível de penetração que tem globalmente. Ele estima que esses percentuais devem ser mesmo maiores diante do potencial de negócio de seguro para seguradoras no país.

Mas o executivo insistiu que, se na fase inicial da abertura do mercado brasileiro "ocorrerem muitas loucuras", a entrada da companhia suíça será mais lenta. "Loucura significa que alguns operadores queiram investir muito dinheiro logo para ganhar fatias de mercado sem considerar os resultados", afirmou. '"Insistimos na qualidade e rentabilidade do negócio".

O executivo deu entrevista após a divulgação dos resultados de 2007, quando a empresa anunciou lucro líquido de 4,2 bilhões de francos suíços, em queda de 9% em relação a 2006, mas ainda o segundo melhor em 144 anos. A perda com subprime nos EUA foi de 1,2 bilhão de francos suíços, abaixo do que o mercado previa. O retorno sobre fundos próprios foi de 14%, comparado a 13% antes.

Michel M. Lies se diz mais do que alegre com a abertura do mercado brasileiro de resseguros, que estava fechado a competição estrangeira desde 1939. Ele compara a demora com a peça de teatro "Esperando Godot", do irlandês Samuel Beckett, no qual os dois personagens representam o homem eternamente à espera.

A Swiss Re tem escritório em São Paulo há 12 anos que na prática só servia para contatos comerciais, porque o IRB-Brasil Re, estatal, era o único que podia operar no país. Com a abertura, decidiu operar como ressegurador admitido (por meio de escritório de representação). Já sua principal concorrente mundial, a Munich Re, optou em ser ressegurador local, com empresa constituída no Brasil, e tem reserva de 60% do mercado.

Lies considera que a estrutura de admitida dá flexibilidade suficiente para Swiss Re responder às exigências do mercado e para acesso ao risco que quer garantir. "As vantagens temporais dadas aos resseguradoras locais não compensam o esforço de ser local, para os clientes a qualidade do serviço pode ser a mesma".

A companhia estima que o resseguro poderá ficar mais barato, devido à concorrência e aos ganhos de eficiência. E que o país atrairá investidores internacionais, provavelmente compensando o possível "pequeno" fluxo de saída de capital em forma de prêmio de resseguro.

Como mais de 75% do mercado segurador brasileiro são coberturas de automóveis, de saúde e de vida, ele acha que são infundados os temores de aumento na volatilidade de preços com a abertura.

Lies disse que Swiss Re vai operar em todos os setores no Brasil, e dará ênfase no desenvolvimento de novos produtos de vida e de não-vida. Tampouco descarta trabalhar com operadores locais ou com o governo para solução de certos riscos envolvendo os mercados financeiros.

Outro objetivo é aumentar seguros ligados a evolução agrícola. "Podemos ter solução que misture nosso conhecimento do mercado e o apetite e alguns investidores por instrumentos mais inovadores". Segundo estudo da Swiss Re, os países emergentes são responsáveis por 70% da produção agrícola global, mas representam apenas 20% dos prêmios de seguros agrícolas. Esses prêmios alcançaram US$ 1,1 bilhão em 2005, significando penetração de não mais de 0,01% no PIB. No Brasil os prêmios de seguro agrícola alcançaram US$ 111 milhões, um terço do montante da América Latina. Nos emergentes, a empresa vê potencial superior a US$ 10 bilhões.

O executivo observa que o mercado brasileiro tem uma grande particularidade: os clientes e as companhias de seguros brasileiros são bem sofisticadas. "Podemos entrar muito rapidamente numa conversa entre experientes, porque o mercado de seguros já teve uma evolução importante, com a diferença de que o resseguro estava sob monopólio". Para Lies, a evolução econômica recente do Brasil acaba com a piada de que era e sempre será o país do futuro. "Agora está claro que o Brasil é seriamente o país do futuro".

A Swiss Re coloca peso nos emergentes, onde os prêmios de seguros alcançaram US$ 427 bilhões, ou 12,5% do total mundial, em 2005. Quase US$ 200 bilhões foram prêmios adicionais entre 2000-2005, refletindo o desenvolvimento desse mercado.

A penetração de seguros (prêmios diretos como percentagem do PIB) nos mercados emergentes é de 2,2% para seguro de vida e 1,4% para o negócio de não vida. Os gastos com seguros de vida eram de US$ 46 em 2005, e de não vida de US$ 30,6. Em 2005, os prêmios de seguro de vida no Brasil alcançaram US$ 10,5 bilhões, 4,2% dos mercados emergentes. Em seguro de não vida, os prêmios foram de US$ 13,3 bilhões (7,8% do total dos emergentes).

A expectativa é de que os prêmios de seguros de vida nos mercados emergentes continuem a crescer cerca de 7%, e de não vida em 5% até 2011. (Colaborou Altamiro Silva Junior, de São Paulo).