Título: Mercado doméstico ajuda calçadistas e têxteis, mas importação preocupa
Autor: Bueno , Sérgio ; Jurgenfeld ,Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2008, Brasil, p. A4

O mercado interno continua como o motor de crescimento das empresas de bens semi-duráveis, enquanto o câmbio valorizado prejudica as empresas do setor. Em têxteis e calçados, algumas empresas anteciparam a venda da coleção de inverno e o bimestre fechou com boas vendas, apesar da preocupação com importados.

A presidente da Dudalina, Sônia Hess de Souza, está animada com a perspectiva de crescimento do primeiro trimestre de 2008. A empresa, sediada em Blumenau, elevou em 20% as vendas em relação ao primeiro bimestre do ano passado, e projeta manutenção desse desempenho para todo o primeiro trimestre. Sônia apontou como fatores positivos para o desempenho o fato de o comércio estar capitalizado para as compras de roupas de inverno, estar sem estoques do ano anterior e ter entrado o ano embalado pelo bom Natal.

O crescimento de 20% veio dentro do projetado pela empresa. Sônia explica que além de contar com um mercado mais forte, a Dudalina também foi beneficiada pela estratégia de acelerar o lançamento de novas coleções. A empresa começou a comercializar o inverno no início de janeiro e não no fim do mês como antes. "Quem chega primeiro acaba saindo na frente", diz ela que tem entre seus principais clientes lojas multimarcas. Segundo Sônia, dificilmente a empresa conseguia ter lucro em janeiro e neste ano conseguiu.

O setor têxtil também reclamou crescimento abaixo do potencial por conta da concorrência com importados. Em janeiro, o setor cresceu 0,42%, segundo o IBGE. "De fato, a concorrência com importados da Ásia reduz a participação de mercado dos produtos nacionais e pressiona preços", afirma Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Ele prevê crescimento para o setor próximo a 3,5% no trimestre e no ano. Ele observa ainda que o segmento de vestuário e acessórios tem crescido acima da média, tendo variado 15,84% em janeiro.

No setor calçadista, o cenário é de estabilidade no mercado interno no primeiro bimestre e as empresas, embora preocupadas com a continuidade da desvalorização do dólar e os possíveis impactos da tensão entre Venezuela e Colômbia sobre as vendas externas, vêm mantendo as projeções para o ano. Em janeiro e fevereiro as exportações somaram US$ 354,5 milhões, 2% a mais do que no mesmo período de 2007, e a previsão da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) é que os embarques no acumulado de 2008 fiquem próximos ao US$ 1,911 bilhão do ano passado.

Para o mercado doméstico, a entidade prevê "ligeira alta" na demanda neste ano, diz o diretor executivo Heitor Klein. Segundo o gerente de marketing da West Coast, fabricante de calçados masculinos e femininos com sede em Ivoti (RS), Sérgio Baccaro Júnior, depois da alta de 8% na produção em janeiro em relação ao mesmo mês de 2007, fevereiro registrou estabilidade, de acordo com os levantamentos preliminares. A empresa destina 70% da produção ao mercado interno e até agora mantém a previsão de crescimento de 20% no trimestre e de 41% no ano, para 2,4 milhões de pares.

A Cecconello, que produz calçados femininos em Três Coroas (RS), registrou alta de 2% nas vendas domésticas no primeiro bimestre e prevê crescer de 10% a 15% no ano sobre os 700 mil pares produzidos em 2008, diz o presidente Aldo Furlanetto. O mercado interno absorve 86% da produção.