Título: Dilma exige explicações
Autor: Kleber, Leandro ; Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 05/02/2011, Economia, p. 15

INFRAESTRUTURA Blecaute ocorre após briga da presidente com o PMDB para conter o aparelhamento do setor elétrico, alvo de críticas de analistas

Um dia após ter anunciado o novo diretor de Furnas, em meio a uma briga com o PMDB pelas indicações para o comando das estatais do setor elétrico, a presidente Dilma Rousseff foi surpreendida pelo apagão no Nordeste, região onde garantiu a sua eleição. Extremamente irritada, ela exigiu esclarecimentos ¿o mais rápido possível¿ para as causas dos problemas que deixaram mais de 40 milhões de pessoas no escuro. Logo pela manhã, ela cobrou explicações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em reunião no Palácio do Planalto e determinou que as empresas geradoras de energia reforcem a manutenção dos serviços.

Segundo o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, Dilma também determinou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que reforce a fiscalização preventiva. Perguntado se a presidente teria minimizado os problemas no Nordeste, como fez Lobão em entrevista, Baena informou que a presidente ficou de fato preocupada com a questão. Dilma sabe que todo o ônus da ineficiência do setor elétrico pode cair sobre o seu colo, pois o modelo em vigor foi montado quando ela esteve à frente do Ministério de Minas e Energia.

Para Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica e Enegia da Universidade de São Paulo (USP), o efeito cascata observado no apagão de ontem comprova que há algo de errado na gestão do setor elétrico brasileiro. ¿O sistema é robusto na concepção, mas frágil na aplicação prática. Basta observar que, em apenas 14 meses, o país enfrentou três apagões. O aparelhamento político dos órgãos que deveriam zelar pela segurança do abastecimento está deteriorando a gestão do setor. Isso se reflete em todos os níveis¿, afirmou.

No entender de Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), o país necessita investir em linhas de transmissão alternativas como forma de prevenir futuros apagões. ¿A falha de um componente eletrônico é comum. O que não pode acontecer é isso derrubar todo o sistema", criticou.

Cronologia Passo a passo do apagão

23h08 de quinta-feira » Uma das duas linhas de transmissão que ligam a Usina Luiz Gonzaga, na cidade de Jatobá (PE) a Sobradinho (BA) desliga-se.

23h21 » Técnicos da Chesf tentam religar a linha de transmissão com problema. A manobra é entendida erradamente pelo sistema de proteção, que desliga a segunda linha de transmissão e a geração na usina Luiz Gonzaga. » Nesse momento, é detectada a falha em uma cartela do sistema de proteção da subestação de Luiz Gonzaga. O defeito no dispositivo eletrônico havia confundido o sistema, fazendo-o identificar um problema que não existia nas linhas de transmissão. » A perda total da ligação entre Luiz Gonzaga e Sobradinho gera uma perturbação no sistema interligado. Ao ser identificada, o intercâmbio de energia com as regiões Norte e Sudeste é automaticamente interrompido: 3,2 mil MW deixam de ser enviados para o Nordeste. » A queda na carga de energia provoca o desligamento em parte de Sobradinho, nas quatro usinas do Complexo de Paulo Afonso, em Xingó e em Apolônio Sales. Começa o apagão em série, atingindo parcialmente a Bahia e totalmente os estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

23h29 » A essa altura, a energia disponível para a região cai de 8,8 mil MW para apenas 800MW. Como o problema atingiu parcialmente Sobradinho, a transmissão e a geração entre Sobradinho (BA) e Barreiras (BA) é mantida, deixando o Sudoeste da Bahia fora do blecaute. » Da mesma forma acontece entre Sobradinho e São José do Piauí, não interrompendo o abastecimento do estado do Piauí. O Maranhão também não é afetado, por ser atendido pelas linhas de transmissão da Eletronorte e não da Chesf. » Técnicos da Chesf conseguem isolar o equipamento defeituoso e religam um dos elos da transmissão entre Luiz Gonzaga e Sobradinho para recompor as cargas das cidades atingidas pelo apagão.

0h10 de sexta-feira » Fortaleza é a primeira capital a ter a energia restabelecida, por estar mais próxima do Piauí, onde o fornecimento estava normalizado.

1h05 » Da mesma forma, Aracaju e Salvador retomam o fornecimento de luz, pela proximidade com o sudeste da Bahia, onde a transmissão não foi afetada.

3h10 » Quase quatro horas depois do apagão, Natal é a última capital a ter o fornecimento restabelecido, por ser a mais distante das áreas não atingidas.

8h00 » A operação para correção do problema na subestação de Luiz Gonzaga é totalmente concluída, com troca da cartela defeituosa e sistema de proteção restaurado.