Título: Demanda surpreende setor de alimentos
Autor: Moreira,Ivana; Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2008, Brasil, p. A4

Para a indústria de alimentos, janeiro e fevereiro foram meses melhores do que se esperava. A mineira Vilma Alimentos, fabricante de massas, misturas e refrescos, as vendas do bimestre foram 19,4% maiores do que o mesmo período do ano passado. Fevereiro foi ainda melhor que janeiro, registrando um crescimento 24,5% superior ao de igual mês de 2007. "O carnaval logo no início do mês também contribuiu", avalia o vice-presidente da indústria, Cézar Tavares.

Para o setor de alimentos, a valorização nos preços das commodities agrícolas e a entrada do período de safra para setores como os de carne, soja e milho ajudam a impulsionar a atividade nas indústrias. A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) estima para o primeiro trimestre um crescimento de 5,5% na produção, em relação ao mesmo intervalo de 2007. "O setor está crescendo acima da expectativa das indústrias", afirma Amílcar Lacerda de Almeida, economista-chefe da Abia. As vendas no mercado interno também estão mais aquecidas, por conta do aumento da renda e do nível de emprego, observa Almeida. Para o ano, a Abia prevê um crescimento entre 4,5% e 5,5%, ante 3,8% no ano passado.

Para atender à demanda aquecida, a Vilma tem já precisou recorrer à hora extra na linha de produção e garantiu um estoque adicional de trigo, seu principal insumo. Apesar do preço elevado da matéria prima neste momento, a indústria mineira alugou silos da Conab no Paraná para poder ampliar seus estoques. "Pior do que trigo caro é faltar trigo", explica Tavares.

Para março e abril, a expectativa da Vilma é manter o ritmo de crescimento das vendas. Nos quatro primeiros dias de março, a empresa já tinha registrado volume de encomendas três vezes maior que o do mesmo período do ano passado. Em apenas quatro dias, 15% da produção do mês já estava contratada. Segundo Tavares, em geral, apenas 5% da produção do mês costuma já estar vendido tão no princípio do mês.

"O cenário está bem legal", comemora o superintendente da Pif Paf, Luiz Carlos Mendes Costa. Segundo ele, além do crescimento das vendas, houve melhora nos preços das principais linhas da indústria mineira. Em média, os preços estão 10% mais altos. Além de vender mais, a Pif Paf está conseguindo melhorar seu mix de vendas, aumentando a participação de produtos de maior valor agregado como os pratos prontos.

As perspectivas otimistas para 2008 levaram a indústria a investir na duplicação da fábrica de massas em Leopoldina. A partir do segundo semestre, a Pif Paf vai produzir o dobro de pizzas e lasanhas. O plano é ampliar também a produção de pão-de-queijo. Na duplicação da unidade em Leopoldina e na construção de mais uma abatedouro em Goiás, a indústria vai investir R$ 235 milhões. "Queremos atender o crescimento da demanda interna e também ampliar as exportações", explica Costa. "Com a produção atual, não conseguimos investir no mercado externo como gostaríamos."

A Gratícia, fabricante pernambucana de salgadinhos, registrou alta de 22% na produção no primeiro bimestre deste ano em relação a igual período de 2007. "O incremento está dentro do que estávamos prevendo, mas já sentimos uma melhora no mercado", afirma Paulo Lucatelli, sócio da Gratícia.

Para o ano, a empresa projeta um aumento de 30% a 34% na produção. Por esse motivo, a Gratícia vem ampliando seu quadro da área comercial. Oito funcionários já foram contratados e outros dez trabalhadores devem ser empregados até o meio do ano - uma lata de quase 20% sobre o número atual de empregados. Lucatelli não sabe precisar o motivo para o crescimento nas vendas. Desde 2007, contudo, a companhia vinha observando um aumento do consumo nos segmentos de média e baixa renda. (Colaborou Cibelle Bouças, de São Paulo)