Título: Dados dos EUA reforçam pessimismo
Autor: Calmes, Jackie; Cooper, Cristopher
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2008, Internacional, p. A13

Uma série de dados divulgados ontem sobre a economia americana provocou análises que oscilaram de mais a menos negativas. O Fed (Federal Reserve, BC dos EUA) disse em relatório que a desaceleração no início do ano foi disseminada por todo o país. Dados sobre emprego e encomendas às fábricas adicionaram o tom negativo, enquanto uma queda menor do que esperada no setor de serviços e o aumento da produtividade levaram a análises de que a desaceleração não deve se prolongar tanto.

Pelo lado mais negativo, todos os distritos do Federal Reserve viram uma desaceleração do crescimento econômico no início de 2008, em um momento no qual houve pressão sobre os preços em quase todas as regiões, relatou o Livro Bege do Fed. "Os relatórios dos 12 distritos do Federal Reserve sugerem que o crescimento econômico desacelerou desde o começo do ano", disse o Fed.

O relatório seguiu-se à divulgação de dados estatísticos da ADP Employer Services que mostraram que as empresas reduziram o número de vagas em fevereiro pela primeira vez em cinco anos. As empresas reduziram suas folhas de pagamento em 23 mil funcionários em fevereiro, contrariando as expectativas, segundo a ADP. Em janeiro, elas haviam contratado 119 mil novos trabalhadores.

O Departamento do Comércio disse que as encomendas encaminhadas às fábricas caíram 2,5% em janeiro. Analistas do mercado previam para uma retração de somente 2,1% no período. O Departamento de Comércio já havia divulgado que, em dezembro, foi registrada uma queda de 2% na demanda por bens industrializados

"Estamos oscilando sobre o ponto mais baixo do desempenho da economia", disse David Resler, economista-chefe da Nomura Securities International de Nova York. "Estamos próximos de condições de recessão, mas ainda não estamos passando por elas."

Pelo lado menos negativo, o setor de serviços sofreu no mês passado uma contração menor do que a prevista, atenuando as preocupações em torno de um desaquecimento prolongado.

O índice das empresas não-manufatureiras do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês), que reflete quase 90% do PIB dos EUA, subiu para 49,3 pontos, comparativamente à baixa recorde de 44,6 pontos computada em janeiro. A marca dos 50 pontos é a linha divisória entre expansão e contração.

Outro relatório divulgado ontem pelo Departamento do Trabalho mostrou que a produtividade cresceu mais rapidamente que a economia americana no quarto trimestre, uma vez que as empresas reduziram o número de horas trabalhadas por funcionário a fim de cortar os custos.

A produtividade, que é um indicador da eficiência dos trabalhadores, subiu à taxa anualizada corrigida de 1,9% no quarto trimestre de 2007, após o avanço de 6,3% registrado no terceiro trimestre.

"O crescimento da produtividade ainda está OK", disse Nigel Gault, economista-chefe para os EUA da Global Insight. "As empresas estão enfrentando todo tipo de problema com os preços das commodities, mas elas parecem estar se saindo muito bem em manter os custos trabalhistas baixos."