Título: Por unanimidade e sem viés, Copom decide manter taxa Selic em 11,25%
Autor: Ribeiro, Alex; Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2008, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem por unanimidade manter os juros básicos da economia em 11,25% ao ano. O colegiado sinalizou que continuará a monitorar os dados sobre inflação para, se for o caso, adotar uma política monetária mais restritiva.

O comunicado divulgado logo após o encontro é praticamente idêntico ao emitido na reunião anterior, em janeiro. "Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés", afirma o Copom. "O comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."

No comunicado da reunião anterior, o Copom havia dito que iria "acompanhar" o cenário macroeconômico, enquanto que agora preferiu usar a expressão "monitorar atentamente".

Maiores detalhes sobre o que levou o BC a manter os juros só serão conhecidos na semana que vem, com a divulgação da ata da reunião feita ontem. Mas a decisão confirmou amplamente as expectativas do mercado financeiro, que não esperava que o Copom endurecesse neste momento a política de juros.

Na sua ata de janeiro, o BC havia dito que, se piorassem as projeções de inflação, poderia adequar seus instrumentos de política monetária às circunstâncias - ou seja, elevar os juros. Naquele mês, o Copom descrevia um quadro inflacionário benigno no médio prazo, com a inflação dentro das metas de 2008 e 2009, fixadas em 4,5%.

Mas o Copom expressava preocupações com a inflação de curto prazo. Pelo seu diagnóstico, a aceleração da inflação ocorrida a partir de fins de 2007 se devia, em parte, ao forte aquecimento da economia. O principal indicador disso, na visão do Copom, foi o avanço dos núcleos de inflação. Para o BC, o rápido avanço do consumo e dos investimentos, quando há pressões importantes nos preços dos alimentos e custos de energia, poderia levar a uma aceleração permanente da inflação.

Depois de chegar a 0,74% em dezembro, porém, a inflação se desacelerou para 0,54% em janeiro, abaixo das expectativas do mercado. Para alguns analistas, esse dado confirmaria que a aceleração recente da inflação respondia apenas à alta pontual de alguns preços - e , portanto, não haveria inflação de demanda. A queda da inflação de janeiro levou a melhoria das expectativas de inflação, indicador que, na visão do BC, é chave para definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.

A unanimidade sem viés da decisão do Copom e o tom sereno do comunicado, devem, segundo analistas, intensificar o movimento de queda dos juros negociados no mercado futuro da BM&F. Depois que a taxa real de juros brasileira (de 6,73%) voltou a ser a maior do mundo, superando a da Turquia (6,69%) - segundo ranking da consultoria UP Trend -, depois da perda de ímpeto da inflação corrente, da consolidação das expectativas de IPCA para 2008 e 2009 abaixo da meta central de 4,5%, da perda de vigor demonstrada tanto pela indústria quanto pelo comércio, seria contraditório o uso de uma retórica ameaçadora. O Comitê não exerceu agora a opção de alta da Selic contratada na ata da reunião de janeiro.