Título: IPC-S tem variação zero com recuo de alimentação
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Brasil, p. A4

Os preços dos alimentos caíram no varejo na última semana de fevereiro, contribuindo para uma desaceleração mais significativa na inflação paulista e nos preços da cesta básica em 16 capitais. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) encerrou fevereiro com variação zero, ante uma alta de 0,23% na semana anterior. O índice foi o mais baixo desde julho de 2006.

O resultado deveu-se, sobretudo, à desaceleração mais rápida nos preços da cesta de alimentação, que apresentou queda de 0,38%, ante uma variação positiva de 0,11% na semana anterior. Para Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real, a desaceleração do índice ajuda a reduzir os temores de pressão inflacionária no curto prazo. Ela projeta para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A) de fevereiro alta de 0,44% - a previsão anterior era de 0,5%. "Esse resultado traz um alívio, mas ainda há uma preocupação muito grande sobre o impacto que a atividade econômica trará para a inflação no ano", afirma.

Analistas consultados pelo Banco Central na semana passada elevaram a estimativa de inflação de 2008 de 4,4% para 4,41%. A 'gordura', segundo Zeina, deve-se à preocupação de aumento nos preços de serviços. "Essa preocupação só deixará de existir se os dados da indústria mostrarem redução no nível de uso da capacidade instalada."

A MB Associados trabalha com projeção de 0,4% para o IPCA, ou pouco abaixo, de acordo com Sergio Vale, economista chefe da consultoria. "A queda de alimentos se acelerou e até março deve se manter em queda, principalmente com a redução nos preços do feijão e da carne bovina. Mas o nível de atividade de fato pode trazer alguma turbulência aos preços", avalia.

Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa do IPC na FGV, observou que janeiro foi o único período a apresentar repique de preços nos últimos cinco meses e por conta de fatores sazonais (alta em alguns alimentos e reajuste da cesta de educação). O núcleo da inflação passou de 0,24% em outubro, para 0,25% em novembro e em dezembro e 0,36% no mês de janeiro. Em fevereiro o núcleo - calculado a partir da exclusão dos itens que tiveram as oscilações mais expressivas - ficou em 0,15%. "Daqui em diante a inflação não será tão ruim como em janeiro, mas também não será tão boa como no mês passado", observou Picchetti. A tendência para o índice IPC, segundo ele, é que o patamar se mantenha por volta de 0,3%, o que garantiria um índice fechado no ano por volta de 4%, ainda abaixo da meta.

Na última semana de fevereiro, houve queda na cesta de alimentação e de vestuário (0,32%), fruto das liquidações feitas pelo varejo para findar os estoques de produtos da coleção de verão. Picchetti também observou que, apesar do reajuste nos preços da tarifa do metrô, a cesta de transportes desacelerou, de 0,16% para 0,12%. A razão foi a queda nos preços da gasolina de 0,9% na semana.

Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, a cesta de combustíveis poderá ter um revés nas próximas semanas, dado que o fim da safra de cana-de-açúcar e a alta nos preços internacionais do açúcar já estão colaborando para a elevação nos preços do álcool.

O levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aponta alta de 6,08% no país na semana passada, sendo vendido nos postos de gasolina em média a R$ 1,552 o litro. A gasolina, por conta da mistura de 25% de álcool, também subiu 1,6% na semana, para R$ 2,534 por litro. "Esse aumento não é tão importante. Se o petróleo continuar subindo no mercado internacional, pode haver reajuste da commodity e seus derivados no mercado interno", afirma Silveira.

Silveira acredita que os preços de alimentos também poderão registrar repiques, por conta das oscilações nas bolsas internacionais. Em fevereiro, 16 capitais registraram recuo nos preços de alimentos, fator que permitiu a queda no preço da cesta básica em 11 cidades pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Houve queda em Brasília (0,22%), Vitória (0,32%), Curitiba (0,64%), Belém (0,72%), Rio de Janeiro (1,16%), Florianópolis (1,24%), São Paulo (1,26%), Aracaju (1,97%), Salvador (3,03%), Belo Horizonte (4,78%) e Goiânia (5,16%).