Título: General colombiano diz ter provas de que Chávez financiou a guerrilha Farc
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Internacional, p. A14

Acirrando a crise diplomática que teve início no último sábado, o general Oscar Naranjo, comandante da polícia colombiana, disse ter provas, não exibidas, de que o o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, teria doado US$ 300 milhões às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e de que a guerrilha teria planos de comprar urânio no mercado negro internacional. Evidências disso teriam sido encontradas num computadores e em documentos achados no acampamento onde foi morto Raúl Reyes, o número 2 das Farc, afirmou o general.

Também baseado em supostos documentos encontrados no local do ataque, que matou Reyes e pelo menos outros 16 guerrilheiros, o general levantou suspeitas sobre ligações entre as Farc e um representante do governo equatoriano. O Equador alega que as acusações são falsas. O vice-presidente venezuelano, Ramón Carrizalez disse: "Estamos acostumados às mentiras do governo colombiano. Digam o que disserem, não tem importância. Podem inventar qualquer coisa para se limparem de violar o território equatoriano".

"Há um pagamento administrado pelas Farc vindo do governo do presidente Chávez, de US$ 300 milhões, para apoiar a causa terrorista", disse o general Naranjo.

Essa é a mais grave acusação de interferência de Chávez em países da região. Há suspeitas de que essas interferências vinham ocorrendo, mas nunca houve provas.

Segundo o general, os documentos de Reyes "desmascaram as relações e o envolvimento das Farc com uma série de governos e personagens em conluio contra a Colômbia, que provam que o país é vítima do terrorismo". Num dos supostos documentos, Naranjo diz haver provas da intenção das Farc de comprar 50 kg de urânio. "Ter urânio, base primária para armas sujas de destruição, é realmente uma ameaça", disse o general.

Ele disse que um documento elaborado por Reyes e dirigido ao comando das Farc detalha que o ministro de Defesa do Equador, Gustavo Larrea, em nome do presidente Rafael Correa, tem o interesse de oficializar as relações com a direção das Farc.

Para Miguel Carvajal, vice-ministro da Defesa do Equador, as acusações são "bravatas".

Segundo Naranjo, esse documento diz ainda que o governo do Equador se compromete a substituir os comandantes policiais e militares nas zonas equatorianas onde estão as Farc e solicita ao chefe máximo das Farc, Manuel Marulanda, uma contribuição que impulsione o papel de Correa na libertação de reféns das Farc. Uma das opções seria entregar ao Equador o filho do professor colombiano Gustavo Moncayo, em poder dos rebeldes há mais de dez anos.

Outro documento, de 18 de janeiro e supostamente escrito por Reyes, indicaria que o ministro equatoriano da Defesa teve contatos diretos com esse chefe da guerrilha, na Colômbia ou no Equador.

Em outra caso de envolvimento do governo Chávez no exterior, um empresário venezuelano ligado à estatal de petróleo PDVSA se disse culpado no caso que corre na Justiça americana para averiguar a tentativa de entrada de US$ 800 mil na Argentina. O caso ocorreu antes da eleição presidencial argentina e levantou dúvidas de que Chávez estaria financiando a campanha da então candidata Cristina Kirchner. Tanto Kirchner quanto Chávez negam o financiamento ilegal.

Carlos Kauffmann, 35, se declarou culpado e pode pegar até cinco anos de prisão. Ele foi um dos quatro homens que pressionaram Guido Antonini a assumir a culpa pela mala de dinheiro e inocentar o governo venezuelano. Antonini, que havia carregado a mala para a Argentina.