Título: Venezuela começa a cortar comércio com a Colômbia
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Internacional, p. A14

A Venezuela teria começado a bloquear o fluxo de comércio com a Colômbia ontem, numa escalada da crise entre os dois países. Autoridades venezuelanas teriam suspendido parcialmente a passagem de carregamentos em dois importantes postos de fronteira, segundo Isidoro Terez, o presidente da Câmara de Comércio da cidade de Ureña, em Táchira, na Venezuela.

Segundo ele, tropas da Guarda Nacional da Venezuela estariam impedindo o trânsito de mercadorias pela fronteira de Táchira, Estado em que há o maior fluxo comercial entre os dois países.

"Por enquanto, as operações de produtos não estão sendo registradas. Estão suspensas ou restritas, disse Teres a agências de notícias. Não estava claro ontem se houve determinação nesse sentido do governo do presidente Hugo Chávez.

A crise regional entre Venezuela e Colômbia ocorre num momento em que aumenta a relação comercial entre os dois países. E pode ser prejudicial para ambos.

A relação comercial vem crescendo desde o começo da década. No ano passado, o fluxo de comércio entre os vizinhos aproximou-se de US$ 6 bilhões - em 2001, era de poucas centenas de milhões de dólares. Por isso, analistas acreditam que a economia pode servir de âncora e evitar uma escalada militar.

A maior parte do fluxo é de exportações da Colômbia. A Venezuela compra quase US$ 4,5 bilhões em trigo, frango, leite, têxteis, carros e outros bens de consumo colombianos. Com isso, a Colômbia se tornou o segundo maior exportador para a Venezuela - só os americanos venderam mais aos venezuelanos em 2007, com total de US$ 13,5 bilhões.

Os Estados do oeste venezuelano dependem em muito dos produtos alimentícios comprados na Colômbia. "O presidente Hugo Chávez está tentando comprar produtos alimentícios de outros países, como o Brasil, mas isso é um arranjo que leva tempo", diz o economista Carlos Araújo, do Programa de América Latina da USP. "Por enquanto, os produtos colombianos contam com rede de distribuição privilegiada."

Uma ruptura do comércio pode causar desabastecimento no país e elevar ainda mais a inflação, que já supera 20% ao ano.

"Mais do que um conflito militar, preocupa a perspectiva de que que haja adoção de medidas retaliatórias da Venezuela em relação ao grande fluxo de produtos vindos da Colômbia", disse Alberto Ramos, economista especializado em América Latina da Goldman Sachs, em nota a clientes do banco de investimentos. "Isso pode contribuir para aumentar mais ainda o déficit em conta corrente da Colômbia e levar uma eventual fragilidade moderada do peso."

Ontem, o peso colombiano caiu quase 0,5%. "A crise política e diplomática com nossos vizinhos está levando os investidores a procurar refúgio no dólar" disse à Bloomberg Alexander Cardenas, analista-chefe da corretora Acciones y Valores, de Bogotá.

O Equador, terceiro envolvido na crise, também tem a Colômbia como a segunda principal origem de suas importações: dos US$ 13 bilhões em importações de 2007, 23,1% vieram dos EUA e 13,3%, da Colômbia - ou seja, cerca de US$ 1,7 bilhão. Para a Colômbia, o país exportou US$ 740 milhões.