Título: Candidato à sucessão no MT é ex-funcionário do grupo e atual diretor do Dnit
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Especial, p. A24

Comandante da autodeclarada "turma da botina", o grupo de empresários do agronegócio oriundos da região Sul que conquistou os principais cargos do Estado nas eleições de 2002 e 2004, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), terá dificuldades para consolidar seu domínio regional.

Os obstáculos não estão na debilitada oposição, formada por dissidências do PSDB e do PT, mas dentro do seu próprio bloco governista. E tradicionalmente nenhuma oligarquia consegue se impôr sobre as demais no Estado: desde 1930, em todas as eleições democráticas, apenas um governador - Frederico Campos, em 1982 - conseguiu eleger um sucessor de sua confiança. É uma instabilidade provocada pela migração em massa das últimas décadas. Nos anos 40, quando o Estado englobava ainda o Mato Grosso do Sul e Rondônia, contava com 18 municípios. Hoje, está com 141.

Blairo Maggi já colocou publicamente como seu favorito para a sucessão o diretor do Departamento Nacional de Infra-Estrutura, Luiz Antônio Pagot, seu braço direito nos projetos de infra-estrutura do Estado no primeiro mandato como governador e administrador de sua empresa de navegação até 2002.

"Aqui a disputa política é muito grande e um governador nunca consegue atender a todas as demandas com as quais se comprometeu. Por isto a alternância acontece. Se não se coloca a questão sucessória logo no começo do mandato, não se vai a lugar nenhum em 2010", comenta Maggi.

Pagot é a aposta primeira do governador, mas não a única. Maggi conta com a possibilidade de uma aliança e apoiar a candidatura do vice-governador Silval Barbosa (PMDB), paranaense como o governador, mas recente dentro da "turma da botina".

Em um e outro caso, o governador terá que desarmar opositores internos. Integrantes de uma das famílias mais tradicionais do Estado, o senador Jaime Campos e seu irmão, o ex-governador Júlio Campos, podem ser candidatos pelo DEM. Conforme avaliação de defensores e apoiadores de Maggi, Jaime Campos estaria eleito, se a disputa ocorresse hoje.

Com forte controle sobre a Assembléia Legislativa, o deputado estadual José Riva (PP) armou candidaturas aliadas para disputar as eleições deste ano na capital Cuiabá e na cidade vizinha Várzea Grande. Juntas, concentram 1 milhão de habitantes, ou quase um terço da população do Estado. No PT, os adversários internos ao continuísmo seriam a senadora Serys Shlessarenko e o deputado Carlos Abicalil. Até mesmo no agronegócio o núcleo mais próximo a Maggi têm rivais, como o deputado estadual e megaprodutor de soja Otaviano Pivetta e o primo do governador, Eraí Maggi, outro grande sojicultor, ambos do PDT.

Para tentar fincar raízes mais prolongadas no Estado, Maggi articula uma candidatura empresarial para a prefeitura de Cuiabá, a do presidente da Federação das Indústrias do Mato Grosso (Fiemt), Mauro Mendes Ferreira, um goiano dono da Bimetal, empresa produtora de torres de telefonia celular.

"Dezenas de empresários serão candidatos este ano. O setor empresarial no Mato Grosso é um agente de liderança social, que reagiu a uma série de gestões sem resultados consistentes", comenta Mendes Ferreira, que ainda não assume publicamente a candidatura, já que Maggi precisa pacificar o próprio partido para abrir caminho para o presidente da Fiemt. O presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Ricardo (PR), também pleiteia a candidatura.

Caso consiga emplacar seu candidato, Maggi terá dificuldades de conseguir uma vitória em Cuiabá. A capital mato-grossense, fundada em 1719, absorve mal o predomínio político da "turma da botina", que concentram seus investimentos em soja, madeira e gado na região Norte do Estado e em Rondonópolis. Desde a redemocratização, aliados do falecido governador Dante de Oliveira se revezam no poder local, com a única exceção da eleição de 1988. Wilson Santos, o atual prefeito tucano, cultiva boas relações com Maggi, mas é favorito para se reeleger sem o seu apoio e, caso consiga um novo mandato, forte candidato contra os aliados de Maggi em 2010.

Maggi procura dar de ombros diante das dificuldades eleitorais que se aproximam. "Penso um pouco diferente do meu grupo. A política não me apaixona. Sou um gerente, tocando isto aqui para obter resultados. Não fico pensando noite e dia em manter hegemonia", afirma. Maggi é citado por aliados para três papéis em 2010: candidato ao Senado, à Vice-Presidência da República, ou, em um cenário muito improvável, à Presidência. O governador desvia do assunto: "A próxima eleição vai ser um divisor de águas na minha vida. Ou volto para as minhas empresas, ou sigo na política até o fim. Ainda não me decidi", afirma. (CF)