Título: Setor de ensino já soma 9 aquisições
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Empresas, p. B2

Janeiro e fevereiro costumam ser muito tranqüilos nos colégios e faculdades, uma vez que o período é dividido entre as férias dos estudantes e a volta às aulas. Entretanto, do lado da administração das instituições de ensino, o ano começou agitado como nunca antes. Em pouco mais de dois meses, foram anunciadas nove aquisições no setor que movimentaram pelo menos R$ 81 milhões.

Ontem, o grupo de capital fechado Cruzeiro do Sul anunciou a compra do Centro Universitário do Distrito Federal (UniDF), com sete mil alunos. O valor não foi divulgado. Na sexta-feira, a Anhangüera comunicou a compra da Educar, em Santa Catarina, sua terceira aquisição no ano. Os três negócios saíram por um total de R$ 61 milhões. A carioca Estácio também fechou três compras em fevereiro, por R$ 15,3 milhões. A Kroton, por sua vez, adquiriu duas instituições, por R$ 4,75 milhões.

O ritmo de consolidação deve continuar forte em 2008 - até mais acelerado do que em 2007, segundo algumas previsões. No ano passado, ocorreram cerca de 25 aquisições no setor educacional. Quatorze delas foram realizados pelas empresas que chegaram à bolsa entre março e outubro - Kroton, Anhangüera, SEB e Estácio - e juntas levantaram R$ 1,38 bilhão com as ofertas primárias de ações.

Neste ano, embora as empresas abertas já tenham gasto uma parte do que captaram, ainda há dinheiro em caixa. A Anhangüera, que é líder absoluta do processo de consolidação, consumiu todos os R$ 430 milhões captados na oferta de ações mas já obteve outros R$ 285 milhões com bancos. Já a Kroton tinha um caixa líquido de R$ 308,2 no fim de 2007. A Estácio tinha R$ 263 milhões até o terceiro trimestre do ano passado, conforme os últimos dados disponíveis. O SEB possuía caixa negativo em R$ 5 milhões, ainda sem o acréscimo de R$ 289 milhões resultantes da abertura de capital em outubro.

Já as empresas de capital fechado têm financiado as compras com recursos próprios e financiamento com bancos. Nesse grupo, destacam-se a Unicsul, o grupo Veris, que é dono do Ibmec, e a Laureate empresa americana que controla a Anhembi-Morumbi, a São Paulo Business School e tem participações em empresas do Nordeste. Há também fundos interessados em fechar mais negócios no setor, como é o caso de dois que são administrados pelo UBS Pactual e detêm participação na Fanor, do Ceará.

Além da existência de recursos, há um outro fator crucial para fazer de 2008 um ano cheio de aquisições em educação, conforme explica Ryon Braga, sócio da consultoria Hoper, especializada na área educacional. Segundo ele, instituições que antes resistiam às ofertas de compra de grupos maiores estão percebendo agora que não conseguirão sobreviver sozinhas. "A facilidade de competir já não existe mais nos grandes centros e cidades médias", diz Braga. "Instituições menores perceberam que ou se unem a grandes grupos ou podem fechar."

O consultor explica que, em geral, os grandes grupos oferecem uma qualidade de cursos semelhante a da média das instituições de ensino superior, mas conseguem cobrar mensalidades mais baixas porque têm ganhos de escala. As praças mais competitivas, segundo ele, são São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. "Mas a concorrência no interior dos Estados também aumenta à medida que os grupos buscam novas aéreas de atuação."

Fazer aquisições é a estratégia que instituições de ensino têm escolhido para crescer rapidamente, pois queima o tempo de espera pelas autorizações necessárias junto ao ministério da Educação para abertura de novos campi. No ano passado, a demora em obter as licenças fez com que a Kroton partisse para o caminho das aquisições e assim conseguisse cumprir a meta estabelecida junto ao mercado.