Título: BB já quer comprar bancos privados
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Finanças, p. C5

Para retomar a dianteira do mercado financeiro, o Banco do Brasil (BB) está disposto agora a fazer aquisições de instituições financeiras privadas. O Banco do Brasil fechou o balanço de 2007 com R$ 357,8 bilhões em ativos totais, como maior banco brasileiro. Mas a distância para o segundo colocado, o Bradesco, com R$ 341,2 bilhões em ativos, foi a menor de todos os tempos.

São alvos em potencial de aquisição pelo BB "operações de varejo em segmentos específicos, em que queremos crescer", disse o presidente do BB, Antônio Francisco de Lima Neto, em entrevista, pouco antes da apresentação do banco a analistas e investidores, realizada em São Paulo. Entre esses segmentos estão o financiamento de veículos e o crédito imobiliário.

O BB detalhou inclusive de onde pode vir o dinheiro para aquisições. Uma das alternativas é a venda da participação do banco na abertura de capital e lançamento inicial de ações (IPO, em inglês) da Visanet, empresa que faz o relacionamento da Visa com os estabelecimentos que aceitam seu cartão. A operação pode ocorrer no final do primeiro semestre, tão logo seja concluído o IPO de uma de seus acionistas, a Visa. O vice-presidente de finanças, mercado de capitais e relações com investidores, Aldo Luiz Mendes, informou que a Visanet pode valer de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões, se for extrapolada a cotação da Redecard, que faz a mesma tarefa para os cartões MasterCard. Há analistas que acreditam que ela valerá mais. O BB tem 32% da Visanet e a idéia que os acionistas vendam o percentual necessário para que a empresa atinja um free floating de 25%, disse Mendes.

No ano passado, o Banco do Brasil anunciou duas aquisições, a do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e do Banco do Estado do Piauí (BEP) e uma terceira possível compra, a do Banco Regional de Brasília (BRB), ainda em negociação. As alternativas estatais não são muitas. Daí o inédito interesse em comprar bancos privados.

Financiamento de veículos e crédito imobiliário são dois dos novos negócios que o BB quer desenvolver exatamente para ter as mesmas armas dos concorrentes e recuperar a margem de dianteira. A carteira de financiamento de veículos fechou o balanço de 2007 com apenas R$ 2,9 bilhões, um décimo dos principais concorrentes e muito pouco perto do estoque de R$ 81,6 bilhões do mercado todo, superando os R$ 100 bilhões se forem incluídas as operações de leasing. O BB pretende dobrar essa carteira neste ano, disse Lima Neto, atingir os R$ 6 bilhões, e abocanhar uma fatia de mercado de 10% até 2012. Com 26 milhões de clientes, a meta parece possível.

O projeto de desenvolver o crédito imobiliário parece mais difícil porque o banco precisa ter o funding adequado. O BB está aguardando autorização do Banco Central para que sua poupança rural possa receber recursos para o crédito imobiliário também. Enquanto isso, o banco tem desenvolvido um projeto piloto junto com a Poupex e feito alguma coisa com recursos próprios. Trabalhar com recursos próprios, explicou Lima Neto, encarece o funding e leva o banco a operar com clientes de renda necessariamente mais elevada.

De toda forma, o BB tende a operar mais nesse segmento de renda, disse Lima Neto, até para não concorrer diretamente com a Caixa Econômica Federal. A meta do banco é ter uma carteira de crédito imobiliário de R$ 1 bilhão até o final do ano.

A própria aquisição do Besc e do BEP, que vai engordar os ativos totais do BB em R$ 6 bilhões, mostra uma nova face banco federal, que também foi agressivo na compra das folhas de pagamento dos governo dos estados da Bahia, Minas Gerais e Maranhão, que agregaram 1 milhão de novos clientes. "O sistema financeiro está sob pressão crescente. Neste ano serão as tarifas que passarão a ter maior controle. Por outro lado, o custo da atividade bancária é crescente", afirmou o presidente do BB.

Outras duas linhas de negócio que o banco já desenvolvia, mas pretende ampliar são cartões de crédito e seguros. O banco tem uma carteira de 69 milhões, que faturou R$ 49,3 bilhões em 2007, garantindo uma fatia de 19,8%. O BB pretende dobrar a carteira para 120 milhões em 2012; e a participação de mercado vai a 25%.