Título: Brasil amplia participação no resultado do HSBC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Finanças, p. C18

Economias emergentes, incluindo o Brasil, garantiram um bom retorno no balanço mundial do banco HSBC de 2007, em um ano em que a indústria bancária em geral registrou pesadas perdas no mercado americano de hipotecas de alto risco.

O lucro bruto (ou seja, antes do pagamento de impostos) avançou 9,62% em relação ao ano anterior, chegando a US$ 24,212 bilhões. O Brasil sozinho deu uma contribuição de US$ 879 milhões ao resultado, cifra que corresponde a 3,6% do lucro mundial do HSBC. A importância do Brasil nos resultados globais do banco vem aumentando ano a ano. Foi de 2,4% em 2006 e de 1,9% em 2005.

O HSBC é um dos bancos mais globais do mundo, com presença em 83 países, e por isso seus resultados sempre representam um panorama da evolução da economia mundial . Mas neste ano os números dão uma visão especialmente privilegiada. A principal incerteza sobre o crescimento nas economias desenvolvidas é justamente a extensão e os desdobramentos das perdas em operações bancárias. E, conforme acredita um bom número de analistas, as economias emergentes vão se descolar pelo menos parcialmente da crise nos países desenvolvidos, puxando o crescimento mundial.

O HSBC foi um dos primeiros bancos a apontar uma possível crise no mercado de hipotecas americanas, em setembro de 2006, quando chamou os analistas que acompanham o banco para avisar que teria pesadas perdas. O problema se concentrava nas operações da Holsehold Internacional, especializada em financiar compras de imóveis por clientes de alto risco de crédito nos Estados Unidos, que foi adquirida em 2003 por US$ 15,5 bilhões. Durante dois anos, a operação foi bem-sucedida e tornou-se a mais rentável entre os negócios do banco. Os resultados começaram a virar com o aumento da inadimplência em 2006.

O balanço de 2007, divulgado ontem, registra uma perda de US$ 2,13 bilhões em provisões, não apenas no credito imobiliário, mas em outras operações de securitização. O lucro do banco na America do Norte caiu de US$ 4,668 bilhões para apenas US$ 91 milhões entre 2006 e 2007.

O fraco desempenho nos Estados Unidos estimulou o chamado ativismo de acionistas minoritários. Um deles em especial, o financista Knight Vinke, que administra fundos que detêm 1% do capital do HSBC, chamou a atenção por sua agressividade - ele propôs com estardalhaço que o banco se desfaça imediatamente dos negócios no mercado americano de hipotecas e direcione as atenções para os mercado emergentes.

"Seria impraticável, seria irresponsável", disse ontem o chairman do HSBC, Stephen Green, ao apresentar os números do HSBC. A estratégia, segundo os executivos do banco, é se esforçar para resolver os problemas nos Estados Unidos e procurar avançar em nichos promissores e pouco explorados, como as comunidades de latinos que vivem naquele pais. Mas em um ponto Vinke e Green concordam: o caminho é crescer nos países emergentes, conforme o próprio HSBC já havia apontado em 2006. "As coisas nos Estados Unidos vão ficar ainda piores antes de se tornarem melhores", disse o presidente-executivo do HSBC, Michael Geoghegan.

Os números divulgados ontem pelo HSBC mostram que, embora a America Latina tenha crescido consideravelmente, quando o banco se refere em buscar resultados no mundo emergente, o foco é claramente na Ásia. Em 2007, por exemplo, o HSBC fez aquisições apenas naquele continente, com atenção especial para China, Coréia do Sul, Vietnã e India. E, de fato, a Ásia responde por uma parcela significativa e crescente nos lucros. De 2006 para 2007, a contribuição da região para o lucro global subiu de 39,5% para 55,1%. A operação na China, relativamente nova, já entrou em 2007 no chamado "clube do US$ 1 bilhão" no lucro do HSBC, com resultado de US$ 2,180 bilhões.

A America Latina, embora tenha uma participação crescente, dá uma contribuição relativa mais modesta - sua fatia no lucro mundial pulou de 7,9% para 9% entre 2006 e 2007, puxada sobretudo pelo Brasil. "A atividade na Ásia e muito mais antiga e consolidada, tem mais de um século, e os países asiáticos crescem mais rapidamente que a America Latina", explicou Geoghegan em entrevista a jornalistas brasileiros.

Apesar de a Ásia ter um dinamismo incomum, afirma, a estratégia de avançar entre os emergentes inclui também a América Latina. Em 2006, o HSBC comprou um banco no Panamá, o Banistimo, com presença em cinco outros países da região, além de ter adquirido a operação na Argentina da Banca Nazionale del Lavoro. "Passamos uma boa parte de 2007 digerindo esses dois bancos", afirmou o executivo. O HSBC também adotou a estratégia do crescimento orgânico, construindo um banco a partir do zero no Peru.

No Brasil, o HSBC vem crescendo a uma velocidade suficiente para manter sua fatia de mercado. Mas o banco segue como o de menor volume de negócio entre as grandes instituições de varejo. "Não precisamos ser os maiores", disse Geoghegan. "Não somos os maiores no Reino Unido, onde nos estabelecemos muitos anos atrás". O HSBC tambem vê seus concorrentes no Brasil avançarem rapidamente por meio de fusões e aquisições, a mais recente delas a compra do ABN AMRO pelo Santander. Geoghegan diz que Santander e HSBC têm estratégias diferentes. "Eles compram bancos, nos fazemos bancos crescerem."

Segundo ele, essa orientação para o crescimento orgânico não impede que, identificada uma oportunidade de negócio, o HSBC entre em ação, como fez ao adquirir a financeira Losango. "Os bancos no Brasil estão caros", disse. Para ele, os altos preços se justificam pelo fato de a economia ter boas perspectivas e o mercado bancário ser relativamente pouco explorado.

O repórter viajou a convite do HSBC