Título: Com a corda toda
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Investimentos, p. D1

Mesmo com o fantasma da recessão às portas dos EUA, a percepção de que os países asiáticos manterão aquecida a demanda por commodities colocou as ações das grandes produtoras brasileiras no radar dos participantes da Carteira Valor. Entre os 10 papéis mais indicados para março, 4 estão relacionados ao setor. A lista vem encabeçada pelas preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras, com 8 indicações, seguidas por Vale PNA, com 5, e, pelas ordinárias (ON, com voto) da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), com 3.

Embora uma freada na economia americana não seja um fenômeno desprezível e deixe rastros pela Europa, a desaceleração não dá sinais de abater a região asiática, especialmente a China, diz o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora, Flávio Conde. "Os números da demanda em janeiro e fevereiro vieram fortes, houve queda nos estoques de cobre, alumínio e níquel, com alta dos metais, indicando uma mudança estrutural na composição do crescimento mundial (com maior peso da China)." Ele lembra que a China tem a favor o imenso mercado consumidor e o baixo custo da mão-de-obra, mas não produz petróleo, minério ou outros metais básicos e seguirá, portanto, puxando as commodities. "Hoje o mundo depende muito menos dos EUA do que em outras recessões."

Nesse cenário, a Vale é um dos destaques, por já ter garantido aumento de 65% para metade das suas receitas, com o reajuste do minério de ferro. Só que, enquanto a companhia negocia a aquisição da anglo-suíça Xstrata, o mercado tem resistido em incorporar o reajuste às ações. "O papel teria de valer R$ 55 ou R$ 60 para refletir isso", diz Conde. Ontem, a ação PNA fechou a R$ 49,64. Dúvidas à parte, sobre o aumento do endividamento ou o risco de uma sobreoferta de papéis numa eventual aquisição por meio de troca de ações, o fato é que a Vale está no jogo certo, o da consolidação, conclui o analista.

A CSN, em vias de anunciar o reajuste para o aço, pode impor, a exemplo de algumas siderúrgicas japonesas, aumentos de até 20%, diz o chefe de análise da Planner Corretora, Ricardo Martins. A companhia ganharia em duas frentes: não sofreria com aumento do minério, pois conta com a mina Casa de Pedra, e ainda seria favorecida pelo bom momento da demanda.

O próprio destino de Casa de Pedra - se abrirá o capital ou se será vendida - mantém os holofotes sobre CSN ON, diz o chefe de análise da Concórdia, Eduardo Kondo. Comenta-se pelo mercado que, após a BHP ver fracassada a sua investida para a compra da Rio Tinto, Casa de Pedra estaria no alvo. Para Kondo, um outro ativo que não está corretamente avaliado no grupo é a MRS Logística, um braço estratégico que tem apresentado resultados "fortíssimos".

A lista da Concórdia ainda inclui Vale e Petrobras, por representarem histórias de crescimento, apesar de todo gigantismo. Enquanto a mineradora corteja a Xstrata, o interesse manifestado pela petrolífera pelos ativos da Esso no Brasil tem o potencial de agregar valor às ações. A favor, Kondo ainda cita que o preço do petróleo no primeiro trimestre de 2008 já está bem acima do observado no mesmo período do ano passado e há um cronograma de inauguração de plataformas ambicioso, com potencial crescimento da exploração pelos próximos seis anos.

Martins, da Planner, ainda manteve no portfólio as ações PNA da Usiminas que, ao seu ver, não incorporaram a aquisição da mineradora J.Mendes. "Como grande fornecedora para o setor automotivo, há mais um ano promissor à vista para a companhia."

Junto com as ações ligadas à cadeia das commodities, os bancos são presença recorrente nas recomendações para março, com destaque para Bradesco PN , com duas. "Neste ano, o banco tem a maior projeção de crescimento de lucro entre os privados e está extremamente barato", assinala Conde, da Itaú Corretora. A Planner aposta em Banco do Brasil ON, que tem condições de recuperar terreno ao longo de 2008, após ter sofrido o impacto de eventos não recorrentes em 2007, diz Martins.