Título: Grande exportador eleva importações
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2008, Brasil, p. A4

Enrique Ussher, presidente da Motorola, sobre a queda na exportação: "Deslocamos produção para o mercado local" Uma parcela significativa dos maiores exportadores brasileiros de manufaturados estão incrementando mais velozmente as importações do que as vendas no exterior. As empresas compram mais insumos, peças ou até produtos acabados fora do país, que se tornaram mais competitivos com a valorização do real. A exportação também perdeu força porque as empresas optaram por direcionar a produção ao pujante mercado interno. O fenômeno ajuda a explicar a redução do saldo da balança comercial.

É extensa e diversificada a lista de companhias cujas compras externas tiveram mais vigor do que as exportações no ano passado. Este fenômeno ocorreu com Volkswagen (automóveis), Caterpillar (máquinas), Motorola (celulares), Gerdau (aço), Robert Bosch (autopeças), Whirpool (refrigeradores), entre outras, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento.

A fabricante de autopeças Robert Bosch desenvolveu fornecedores no exterior, principalmente na China e no Leste Europeu, e aumentou as importações de peças e matérias-primas. Segundo Gerson Fini, diretor do departamento de compras da empresa, o conteúdo importado das autopeças da Bosch subiu de 30% em 2006 para 35% no ano passado. "Nossa estratégia não é importar. Queremos desenvolver fornecedores locais, mas não tivemos alternativa", disse.

Em 2007 em relação a 2006, as exportações da Bosch cresceram quase 5%, mas as importações aumentaram três vezes mais rápido: 15%. Fini ressalta que a tendência é seguir elevando a participação de componentes importados este ano. A Bosch também adquiriu máquinas no exterior para elevar a produção e atender ao mercado interno, mas os valores não são significativos.

Com base nos dados da Secex, o departamento de economia do Bradesco avaliou o desempenho de 71 grandes companhias brasileiras que atuam nas duas mãos do comércio exterior: exportação e importação. As exportações das empresas cresceram 37% entre 2005 e 2007, enquanto as importações avançaram 57%, revela o estudo. O câmbio é um dos responsáveis pela diferença. Nesse mesmo período, o real se valorizou 50% em relação ao dólar.

Para os economistas do banco, o levantamento demonstra que os exportadores estão importando mais para reduzir os custos com os insumos e, conseqüentemente, o prejuízo causado pelo próprio câmbio. Ao exportar e importar, a empresa garante um "hedge" natural. Em 2005, as importações das empresas analisadas correspondiam a 61% do valor das exportações. Em 2007, esse percentual atingiu 70%.

Em alguns segmentos, especialmente aqueles em que o conteúdo importado já é alto, o câmbio não é o fator determinante para a fraqueza das exportações e o incremento das importações. É o crescimento do mercado interno que dita o comportamento da empresa no exterior. Este é o caso da fabricante de celulares Motorola. Depois de uma alta de 36% entre 2006 e 2005, as exportações da empresa caíram 4% para US$ 1,3 bilhão em 2007.

A fábrica da Motorola em Jaguariúna (SP) foi construída e recebeu investimentos recentes para atender ao Brasil e aos países da América Latina. Só que no ano passado o mercado interno cresceu mais de 20% e prejudicou o desempenho exportador. "Tivemos que deslocar a produção para o mercado local", diz Enrique Ussher, presidente da empresa. Excepcionalmente, o aumento da demanda das nações vizinhas foi atendida pelas unidades na China. A expectativa de Ussher é manter o patamar das exportações em 2008.

Apesar do aumento nas vendas, as importações da Motorola caíram 4% em 2007, para quase US$ 1,9 bilhão. A queda surpreendeu até os executivos da empresa, que esperavam um aumento. Os investimentos em tecnologia provocam queda contínua de preços e matérias-primas de produtos eletrônicos.

Nas montadoras, o crescimento veloz das importações e a queda ou desempenho fraco das exportações se tornou quase uma regra. Além da Volks, estão nesta situação General Motors, Ford, Mercedes-Benz (antiga DaimlerChrysler), Fiat, Scania e Renault. O setor automotivo é emblemático dado o crescimento explosivo do mercado interno. Com a capacidade produtiva tomada e a lucratividade no exterior comprometida pelo dólar barato, as montadoras se dedicaram menos às exportações.

Segundo a Secex, as vendas da Ford no exterior caíram 7,6% em 2007, para US$ 1,45 bilhão, já as importações aumentaram 19%, para US$ 934 milhões. Rogelio Golfarb, diretor de relações institucionais da Ford, diz que boa parte do aumento das importações é conseqüências do sucesso de vendas da Fúsion, produzido no México. A empresa também incrementou a importação de veículos produzidos na Argentina, para atender ao mercado brasileiro.

"Estão crescendo as importações da Argentina. O setor está organizado hoje de forma complementar no Mercosul", diz o executivo. Apesar do câmbio, ele explica que a importação de autopeças de terceiros países não registrou alta significativa por conta das dificuldades logísticas. Para importar peças, é necessário aumentar os estoques, o que eleva o custo financeiro. Os atrasos na alfândega também podem comprometer a produção.

De acordo com André Senador, diretor de comunicação da Mercedes-Benz, houve um significativo aumento na importação de modelos importados. As compras externas da empresa subiram 38% no ano passado, enquanto as exportações avançaram 11%. Os dados de 2007 ainda incluem as operações da Chrysler, que foram separadas da Daimler recentemente.