Título: Lupi deixa cargo no PDT na tentativa de encerrar polêmica
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2008, Política, p. A12

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, deve se licenciar hoje da presidência do PDT e acabar com o constrangimento na Presidência da República por ter no governo um ministro avaliado oficialmente pela Comissão de Ética Pública como transgressor da ética. A saída para que Lupi permanecesse no ministério e deixasse a presidência do partido, acúmulo de cargos condenado pelas regras que orientam a atuação de servidores públicos, vinha sendo desenhada há algum tempo pelo governo, mas a mudança no comando da Comissão de Ética foi fundamental para o desfecho do caso.

A saída de Marcílio Marques Moreira, substituído por Sepúlveda Pertence, fez com que o embate com Lupi deixasse de ser pessoal, como o ministro alegava, e passasse a ser conceitual. Sem Marcílio, Lupi não poderia mais se dizer vítima de uma "perseguição pessoal". Afinal, havia sido trocado o comando da Comissão e a percepção continuava a mesma - o acúmulo de funções gerava questionamentos éticos. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu decisivamente para isso. Pertence assumiu no dia 25. No mesmo dia, Lula conversou com o novo presidente da Comissão de Ética.

A intenção era distensionar o ambiente, embora assessores neguem que Lula tenha feito qualquer pedido ao novo presidente da Comissão. Dois dias depois, foi a vez de Lula conversar com Lupi. O ministro do Trabalho levou ao presidente os números de repasses feitos pela sua Pasta a Estados, municípios e organizações não-governamentais, numa tentativa de provar que não estava favorecendo aliados do partido.

No dia seguinte, Lula defendeu publicamente seu ministro, classificando-o de "o mais republicano" da Esplanada. Era um sinal claro de que o governo estava disposto a bancar a permanência de Lupi. Mas que cabia a ele agir para evitar constrangimentos ao Planalto, pressionado pela Comissão de Ética, que pedia para que o pedetista escolhesse entre o ministério ou a presidência do partido.

O acerto estava feito. Lula já estava mais à vontade na situação, pois Lupi é seu ministro e Pertence, seu amigo. No Planalto, a postura que Marcílio Marques Moreira tinha adotado gerara profundo desconforto político. Não pelo conteúdo - o Código de Ética é claro nesse sentido. Mas pela forma: "Marcílio poderia ter chamado Lupi pessoalmente para uma conversa, poderia ter pedido uma audiência com o presidente. Mas não, ele expôs o governo a um constrangimento público", reclamou um ministro.

Tudo ia bem, até que o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro quase pôs tudo a perder. No fim de semana, questionado sobre a situação de seu companheiro de governo, ele afirmou que, se Lupi tivesse de optar, esperava que a opção fosse por permanecer no Executivo e não, no Legislativo. Da forma como a coisa foi colocada, Lupi estava novamente encurralado, tendo de escolher entre um ou outro cargo. "Nas táticas de batalha, você sempre deve deixar uma saída para quem está em dificuldades. Senão, a pessoa torna-se um franco atirador e o estrago pode ser maior, uma unidade poderá lutar por um exército", filosofou outro governista.

Múcio percebeu a falha e correu para se justificar, dizendo que havia sido mal compreendido. Falou isso na coordenação política e em telefonemas sucessivos para Lupi e para os líderes do PDT, tanto no Senado - Jefferson Péres (AM) quanto na Câmara, Vieira da Cunha (RS). Recomposto o ambiente para o acordo, Lupi resolveu marcar a reunião do PDT para hoje, na qual vai se afastar da presidência. Cogita-se que o substituto deve ser o atual secretário-geral da legenda, Manoel Dias, mas a vaga também pode ser ocupada pelo vice-presidente Vieira da Cunha (RS) ou pelo governador do Maranhão, Jackson Lago.

Um líder aliado a Lupi afirmou que a licença será boa para acabar com a "hipocrisia": Em mais um sinal da desimportância que dá aos princípios éticos, comentou que em "qualquer canto do mundo não existe esse debate ético. Só no Brasil. Com as coisas acertadas para a saída de Lupi, não haverá solução de continuidade no comando partidário".