Título: Caraguatatuba cresce e faz planos para os royalties de Mexilhão
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2008, Especial, p. A20

Sônia Cervoni costumava ir uma vez por semana à capital paulista para repor os estoques da sua loja de materiais de construção, a Jocami, em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. Desde novembro, suas viagens passaram para três por semana. Os pedidos de compra para o canteiro de obras da futura estação de tratamento de gás da Petrobras na cidade não dão mais tempo para o comércio descansar. "A Petrobras conversou com as empresas locais, pois quer dar preferência para comprar materiais na própria cidade, e assim deu tempo para gente se adaptar dentro da sua projeção de demanda e necessidade de produtos", diz a empresária.

Se a loja Jocami costumava receber pedidos de compra de dez capacetes de construção, agora vende 200 de uma vez, e os estabelecimentos menores deixaram de abrir apenas em épocas de temporada. Isso mostra que o turismo pode deixar de ser a principal atividade do município em pouco tempo. Segundo expectativa da Petrobras, daqui a três anos a unidade de tratamento de Caraguatatuba estará pronta para receber o gás natural do Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos. De lá, o gás segue para a cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba, para depois ser distribuído.

O investimento de R$ 1,4 bilhão da estatal já começa a movimentar a economia da cidade. A partir deste ano a prefeitura terá aumento da arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) por conta das obras. Além disso, diversas empresas estão de olho no desenvolvimento que a destinação de royalties gerados pelo tratamento de 15 mil m3 de gás por dia vai trazer para o local. São esperados até R$ 190 milhões por ano em destinações à prefeitura quando a exploração atingir a capacidade total, valor equivalente ao orçamento do município neste ano.

A Petrobras já cogitou usar o local para tratar o gás do recém-descoberto campo de Tupi, na Bacia de Santos, o que aumentaria significativamente o volume da produção. No momento estão sendo executadas as obras de terraplenagem no canteiro de 1 milhão de m2 pelo Consórcio Caraguatatuba, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Iesa.

O aumento da demanda por materiais de construção chamou atenção da rede Dicico. A empresa abrirá em breve uma unidade no município como início de seus investimentos no litoral norte. Segundo o diretor de marketing da empresa, Carlos Corazzin, os investimentos são de R$ 500 mil na montagem de uma loja de 70 m2 e 40 mil itens de exposição. A empresa contratará 25 funcionários diretos e 15 indiretos. "A renda da população já estava aumentando, e a situação fica ainda melhor com a chegada da Petrobras. Não sabemos, porém, o quanto isso aumentará a demanda", diz ele.