Título: Campanha de Obama já sente o impacto de ataques dos adversários
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2008, Internacional, p. A15

A batalha pela liderança do Partido Democrata na corrida presidencial americana ingressou numa nova etapa, em que a sinceridade das convicções do senador Barack Obama e a viabilidade de sua candidatura passaram a sofrer um exame mais rigoroso do que o que ele vinha enfrentando até agora.

Ataques dos adversários e uma atitude cada vez menos complacente dos jornalistas que seguem sua caravana submeteram Obama nos últimos dias a uma série de questionamentos embaraçosos, da honestidade das promessas que ele tem feito e a ligações com um empresário acusado de corrupção.

O tiroteio indicou que o caminho de Obama tende a ficar cada vez mais acidentado daqui para frente, mesmo que os arranhões em sua credibilidade sejam imperceptíveis daqui a uma semana e portanto insuficientes para a ex-primeira-dama Hillary Clinton virar o jogo no partido.

Os eleitores foram às urnas ontem no Texas, em Ohio e em dois Estados menores para as prévias que definirão os candidatos que irão disputar a eleição presidencial de novembro. No Texas, a votação seria seguida à noite por assembléias partidárias. Segundo pesquisa de boca-de-urna da rede de TV CNN, Obama venceu em Vermont, como esperado, e em Ohio a disputa estava apertada e não era possível antecipar o vencedor. Os resultados só seriam conhecidos na madrugada de hoje, pelo horário brasileiro.

Pelas pesquisas, a ascensão de Obama nas últimas semanas fez sumir a expressiva vantagem que Hillary tinha sobre ele nos dois grandes Estados que votaram ontem. Mas sondagens mais recentes sugerem que ela conseguiu conter parte da sangria na última hora, conservando uma pequena vantagem sobre o rival em Ohio.

Hillary vinha tentando há muito tempo desacreditar o adversário com ataques genéricos à sua inexperiência e à falta de substância de seus discursos. Ela não teve muito sucesso com isso e, nesta semana, adotou uma tática diferente, desferindo ataques mais objetivos e pressionando a imprensa americana a cobrar explicações de Obama.

Dois episódios a ajudaram. Primeiro, descobriu-se um memorando em que diplomatas canadenses relatam uma reunião com o principal assessor econômico de Obama, Austan Goolsbee, e dizem ter recebido indicações de que o candidato não vai mudar as relações comerciais entre os dois países, ao contrário do que ele vem dizendo na campanha.

Obama e Hillary vêm prometendo rever o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que os EUA assinaram com o México e o Canadá em 1994, para ajudar os trabalhadores prejudicados pelo tratado. Pouca gente leva a sério a ameaça, por causa das inúmeras dificuldades que os dois parceiros dos EUA imporiam a qualquer tentativa de reabrir o acordo.

Goolsbee disse que foi mal interpretado pelos canadenses, mas o caso passou a impressão de que Obama diz uma coisa no palanque e outra quando as câmeras estão desligadas. Ele negou que o assessor tivesse falado com os diplomatas, quando a história começou a circular, e só se corrigiu após o memorando canadense aparecer.

Hillary conseguiu mais munição contra Obama com o início do julgamento do empresário Tony Rezko, que está preso em Chicago, acusado de extorsão e lavagem de dinheiro. Rezko ajudou a financiar as campanhas de Obama no passado, e os dois se envolveram há dois anos numa transação imobiliária esquisita que ajudou a valorizar a casa de Obama em Chicago.

O senador não tem nada a ver com os negócios que levaram Rezko ao banco dos réus e admite que errou ao se relacionar com ele no passado. Mas Obama sempre revela desconforto quando o assunto vem à tona. Na segunda, ele encerrou abruptamente uma entrevista coletiva quando os repórteres faziam perguntas sobre Rezko.

Pode ser que nada disso tenha a menor importância depois que os resultados das prévias de ontem forem divulgados, mas a pressão sobre Obama pode ajudar Hillary a prolongar a disputa partidária mesmo se ela acordar hoje sem força suficiente para se levantar. A próxima etapa relevante das prévias partidárias será em 22 de abril, na Pensilvânia.

Muitos líderes democratas estão ansiosos para ver a briga acabar. Eles temem que a indefinição prejudique a imagem do partido e favoreça os adversários do Partido Republicano, onde o senador John McCain já reuniu apoio suficiente para ser o candidato da legenda e já começou a planejar sua estratégia para combater os democratas.

Mas Hillary voltou a indicar ontem que está longe de jogar a toalha. Apesar da enorme dificuldade para barrar o avanço de Obama, ela acha que tem condições de intensificar a pressão sobre o adversário se ganhar mais tempo.