Título: Chávez ameaça estatizar empresas colombianas
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Fonte: Valor Econômico, 07/03/2008, Internacional, p. A11

Venezuela está começando a bloquear bilhões de dólares em importações e investimentos colombianos, ameaçando com isso a economia dos dois países, em represália ao ataque que a Colômbia fez contra guerrilheiros que estavam escondidos em território equatoriano. Além disso o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou estatizar as empresas colombianas que atuam em seu país.

"Não estamos interessados nos investimentos colombianos aqui", disse o presidente Chávez, em uma cerimônia na qual recebeu o presidente equatoriano, Rafael Correa, em Caracas. "Não estamos interessados nos investimentos colombianos aqui", disse Chávez. "Vamos fazer o mapa das empresas colombianas na Venezuela. Poderíamos nacionalizá-las. E as que temos lá na Colômbia, teremos de vendê-las."

Ele disse que a Venezuela vai procurar por produtos em outros países para substituir as importações vindas da Colômbia. "Ñão podemos depender deles, nem de um grão de arroz", disse Chávez.

O comércio entre Colômbia e Venezuela reduziu-se ao mínimo essencial, por causa da crise diplomática iniciada no fim de semana. Caracas autoriza apenas a entrada de produtos perecíveis provenientes do país vizinho. As autoridades alfandegárias disseram que só produtos como leite e frango podem passar pelos entrepostos aduaneiros de San Antonio e Paraguachón. Cargas como roupas e máquinas estão retidas.

O ministro da Fazenda da Colômbia, Oscar Iván Zuluaga, reconheceu que o eventual fim do comércio com a Venezuela seria muito prejudicial para seu país e que ocasionaria à Colômbia uma perda de 1,3 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) e de até 100 mil empregos ainda esse ano. Quanto às nacionalizações, Zuluaga disse: "Esperamos que se respeite o direito de propriedade e que, caso se tome uma decisão nesse sentido, se pague aos empresários o valor dessas empresas, como aconteceu em decisões passadas".

A Colômbia, cujas vendas da Venezuela totalizaram US$ 5,2 bilhões no ano passado, segundo estimativa do ministro, projeta que sua economia crescerá 5% em 2008. Entre janeiro e setembro de 2007, o país cresceu 7,35%, seu melhor desempenho das últimas três décadas.

Por outro lado, analistas dizem que as restrições na fronteira podem agravar a escassez de produtos alimentícios na Venezuela e acelerar a inflação, que já é a mais alta do continente.

Alguns analistas crêem que os efeitos prejudiciais podem chegar até a países não envolvidos diretamente. "A crise ameaça a integração sul-americana e especialmente a expansão do Mercosul", afirmou Virgílio Arraes, professor de relações internacionais na Universidade de Brasília.

"O sonho de uma união política na América Latina será adiado", disse o embaixador José Botafogo, diretor do Cebri, instituição voltada ao estudo de questões de política internacional, com sede no Rio.