Título: Virtus nasce da fusão de sete companhias
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2008, Empresas, p. B2

Em um sábado de fevereiro, Maurício Fernandes sentou-se em frente a uma taça de vinho, tirou da prateleira seu dicionário de latim e começou a ler os verbetes, um a um, a partir da letra "a". Só terminou no "v", quando se deparou com o que procurava: um nome que considerasse forte o bastante para batizar a união de sete companhias brasileiras de tecnologia da informação (TI) - incluindo a Dedalus, da qual é um dos fundadores - em um só grupo.

Batizada de Virtus - a palavra latina para coragem, virtuosidade e força - a nova empresa foi anunciada ontem, mas começou a ser engendrada em meados do ano passado, nas reuniões de conselho de outra de suas companhias formadoras: a Automatos. "Começamos a conversar sobre consolidação e percebemos que era esse o caminho", diz André Fonseca, que assume a presidência da Virtus.

A consolidação é um movimento cada vez mais intenso no mercado brasileiro de TI. Só a Datasul, de software de gestão de negócios, adquiriu nove companhias desde sua oferta pública inicial de ações, em junho de 2006. A Totvs, da mesma área, é considerada precursora dessa onda de fusões: desde 2005, quando ainda se chamava Microsiga, absorveu cinco empresas e criou uma joint venture.

O que torna o movimento da Virtus diferente é que, desta vez, sete empresas de médio porte - Biosalc, Intelekto, Trellis, Visionnaire e Volans, além de Automatos e Dedalus - decidiram se unir, assumindo participação parecida no grupo resultante. Trata-se de um modelo bem diferente do tradicional, em que o peixe maior simplesmente engole o menor. "No Brasil, só há grandes empresas no setor de gestão empresarial. Nos demais segmentos, não havendo um predador, a consolidação possível é essa que estamos fazendo", diz Fonseca.

A Virtus nasce com 800 funcionários e uma carteira de aproximadamente mil clientes, incluindo peso-pesados como Bradesco, Itaú, Vivo, Oi, Carrefour, Nestlé e Embraer. Somada, a receita das sete companhias em 2007 foi de cerca de R$ 70 milhões, informa Fonseca. A composição acionária inclui os sócios das companhias agrupadas, além da Intel Capital - braço de capital de risco da gigante americana dos chips -; da IdeiasNet, empresa de investimento em negócios de TI; e do fundo SPTech. Os três últimos já detinham participação societária em alguma das empresas reunidas na Virtus. O Banco Fator foi o responsável pela assessoria no processo de fusão.

Convencer seus pares a aderir ao projeto de fusão não foi difícil, diz o empresário. "O entendimento de todos foi de que era melhor estarmos juntos." Agora, porém, os novos sócios sabem que terão um grande trabalho para integrar todos os processos internos.

Para tornar a missão mais fácil, a Virtus foi dividida em três unidades: software, serviços e equipamentos. Cada divisão é formada por uma ou mais empresas fundadoras e conta com um orçamento próprio, já votado e aprovado.

A primeira providência, conta Fonseca, foi criar um grupo de vendas cruzadas para oferecer aos clientes uma combinação de produtos de todas as antigas empresas. O próximo passo será a criação de um centro de serviços compartilhados, que aos poucos irá concentrar atividades como marketing e assessoria jurídica. Os primeiros dois processos a ser unificados dentro do centro, até o fim do ano, serão os de compras e recursos humanos. A expectativa é de atingir uma redução de custo de 15% com essa sinergia. A última área a ser atacada será a unificação tecnológica dos produtos.

A maioria das empresas têm sede em São Paulo, mas serão mantidos um centro de desenvolvimento em Curitiba (PR), onde ficam os atuais laboratórios da Visionnaire, e outro em Petrópolis (RJ), centro de criação dos produtos da Automatos. Serão mantidas também as instalações da Biosalc, voltada para agroindústria, em Ribeirão Preto (SP). Os nomes das empresas originais passam, automaticamente, a batizar seus produtos.

Embora passe a englobar várias atividades, o coração dos negócios será a área de software. "Os programas poderão ser vendidos no molde tradicional de licença, no formato de serviço ou embutidos em um equipamento, mas software será o núcleo", afirma Fonseca. Entre os principais competidores, diz o executivo, estão multinacionais como IBM e CA.

Até o fim do ano, a expectativa da direção da Virtus é de que outras empresas se juntarão ao grupo. As áreas de interesse incluem segurança, engenharia de rede, análise da qualidade de software e infra-estrutura para TV digital.