Título: Demanda firma e ação dos fundos sustentam cotações
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Empresas, p. B11

As seqüências de recordes registrados nas cotações do petróleo e de metais não-ferrosos durante o mês de fevereiro e na primeira semana de março devem seguir, pelo menos, até o fim do primeiro semestre deste ano. A tendência é permeada pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda dos grandes compradores de commodities e reforçada com o ingresso de capital de fundos de investimentos, cenário que sinaliza novas rodadas de preços recordes no curto prazo.

A desaceleração da demanda por metais nos Estados Unidos ainda não foi confirmada e a China, Índia e outros países emergentes como o Brasil seguem com compras em alta. Além disto, a principal justificativa dos analistas para a valorização é de que o interesse de fundos em commodities ocorre por causa do temor de índices de inflação maiores nos EUA e Europa. Tensões geopolíticas também têm contribuído para a valorização do petróleo, em especial no tipo WTI, negociado em Nova York.

Ontem, o barril de petróleo WTI com entrega em abril registrou novamente recorde de preço, terminando o dia cotado a US$ 105,47, alta de US$ 0,95 na comparação com o pregão anterior. O mesmo comportamento foi verificado na cotação do barril tipo Brent, referência na Europa, que encerrou o dia em US$ 102,61 em Londres, avanço de US$ 0,97.

No caso dos metais não-ferrosos, o cobre e o alumínio atingiram novos níveis históricos na sessão de ontem. Segundo Luiz Manreza, analista do Standard Bank, a procura por proteção contra um possível movimento inflacionário e retornos maiores do que os de ativos financeiros levam à busca por commodities. "Apesar dos fundamentos serem positivos, não é justificado o cobre 'testando' o patamar de US$ 8,9 mil a tonelada. O que está empurrando o preço é a entrada de fundos de investimentos", explica.

Opinião semelhante foi dada por Michael Jansen, do JPMorgan, ao "Financial Times". "Não há sentido em buscar motivos microeconômicos ou de fundamentos econômicos para o desempenho acentuado dos metais nos últimos meses", observou. "Dada a importância da inflação para as commodities, é lógico crer que a curva ascendente das commodities não será desafiada até que os bancos centrais, especialmente o Fed (BC dos EUA), comecem a centrar-se na inflação".

No fechamento de ontem na Bolsa de Metais de Londres (LME na sigla em inglês), a tonelada do cobre com entrega para três meses ficou em US$ 8.810, o que significa uma valorização 5,9% em relação à cotação de quarta-feira. Já o alumínio terminou o dia em alta de 3,8%, valendo US$ 3.212 a tonelada.

A previsão do Standard Bank para os preços dos metais é de leve declínio a partir de abril. A estimativa é de que o alumínio tenha cotação média em 2008 de US$ 2.650 a tonelada, o cobre de US$ 7.005, chumbo de US$ 2.620, níquel de US$ 29.175, estanho de US$ 17.050 e zinco de US$ 2.480. Mesmo assim, estarão em patamares elevados de preços.

Outro fator ressaltado por Manreza são os custos de energia, que impactam principalmente o preço do alumínio. "Houve um interesse muito grande dos fundos no alumínio por causa dos custos de energia no longo prazo que tendem a aumentar", diz. "Será difícil voltarmos a ver a cotação da commodity no patamar abaixo de US$ 2 mil a tonelada".

Além do preço da energia, a cotação do alumínio tem aumentado por pressões isoladas como o inverno rigoroso da China no início do ano e problemas de produção na África do Sul, que podem significar uma diminuição de cerca de 600 mil toneladas na produção global do metal, conforme o relatório do Standard Bank.

"Os fundamentos (oferta e demanda) dão um sentimento positivo ao mercado, em especial, aos investidores, mas não justificam tantos recordes", complementa Manreza. O analista exemplifica com os preços do níquel, que chegaram a superar US$ 50 mil no ano passado e devem encerrar este ano em US$ 29.175. "Esses preços não são sustentáveis no longo prazo. No caso do níquel, o movimento era de três players especulando na LME", diz.