Título: Vale prevê cenário promissor para metais e ferro até 2012
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2008, Empresas, p. B11

Contrariando a tendência de queda que antecipava uma desaceleração global, como já ocorreu em meados dos anos 80, dos 90 e no início da década atual, o preço do minério e ferro e dos metais continuam firmes mesmo com os sinais de desaquecimento da economia americana.

Nos primeiros dois meses do ano, o preço "spot" do minério de ferro na Índia continuava cotado a US$ 224 a tonelada, sinalizando "escassez" do produto. Em janeiro, contrariando expectativas de analistas, o preço da tonelada do alumínio subiu para US$ 3.100, juntamente com as altas surpreendentes do cobre, que foi a US$ 8.500 e do níquel, que bateu em quase US$ 37 mil dólares.

"Não há evidência de que este processo seja interrompido, nem que este ciclo será de curta duração. Pela demanda de nossos clientes, que querem assegurar acesso a estas matérias-primas, não há sinais de estagnação nesses mercados. O grande motor deste crescimento ainda é a China", disse Fábio Barbosa, diretor-executivo de Finanças da Vale do Rio Doce, ao desenhar um cenário futuro para as commodities metálicas e o minério de ferro, numa apresentação para analistas esta semana.

A tese defendida por Barbosa, considerada bastante polêmica, é que este processo de alta dos metais é derivado do descolamento das economias emergentes das economias maduras dos países desenvolvidos. O que faz com que os emergentes, produtores de commodities metálicas e outras, não se deixem contaminar pela crise americana.

Apesar da crise do subprime, o executivo da Vale destacou que o setor de mineração não tem sua dinâmica determinada pelo mercado americano, que movimenta US$ 11 trilhões. "Se houver redução de crescimento na margem, isto não será suficiente para modificar esta tendência. Em 2008 não há qualquer indício de desaceleração maciça no preço dos metais, que até o início da década funcionava como indicador de desaceleração da economia global".

Por esta razão, a Vale não pretende rever seu plano de negócios de US$ 59 bilhões, que envolve investimentos em novos projetos de exploração de minério e metais até 2012. "Há demanda e os preços estão em níveis recordes".

Em recente relatório, o Credit Suisse previu um aumento de 30% no preço do minério de ferro para 2009, depois que o produto foi reajustado em 65% para este ano.

No cenário da Vale, as economias emergentes estão passando por mudanças estruturais com expressivas implicações na demanda por minerais e metais. O plano de urbanização da China, que consiste em transferir 300 milhões de pessoas, ou 20 milhões ano, do campo para a cidade até 2020 vai consumir aço para infra-estrutura, moradias, bens duráveis e outros produtos industrializados. O mercado chinês já consome atualmente mais de 400 milhões de toneladas de aço, enquanto a Índia, em processo de expansão, absorve 50 milhões de produtos siderúrgicos. O motor deste crescimento da China e da Índia, que segundo Barbosa "está apenas começando", é o mercado doméstico.

"A China é muito menos vulnerável aos ciclos da economia americana do que pequenas economias asiáticas voltadas para exportação", d estacou o executivo da Vale. Por tal raciocínio, o mercado chinês continuará como o principal responsável pelo crescimento do preço das commodities metálicas. No ano passado, a China absorveu 49% do consumo mundial de minério de ferro, 24,2% do de níquel, 33% do de alumínio e 26,3% do de cobre. Em 2011, segundo estimativas da Vale, China deve absorver 54% de minério de ferro, 31% de níquel, 41% de alumínio e 30% de todo o cobre do mundo.

A Vale espera que a economia global cresça ainda a um ritmo acima da média histórica até 2012, influenciada pelo rápido crescimento das economias emergentes, entre as quais o Brasil. No período 2008/20012, a mineradora trabalha com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), que projeta crescimento médio anual de 4% para o PIB global no período. Para o PIB chinês, as projeções são de crescimento de 9,2% entre 2008 e 2012, suficiente para continuar movendo a economia mundial.