Título: Crise econômica e questões morais dividem o eleitorado na Espanha
Autor: Souza , Marcos de Moura
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2008, Especial, p. A20

Os espanhóis vão às urnas no domingo para decidir se dão mais um mandato ao atual primeiro-ministro, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, ou se devolvem o comando do país aos conservadores do Partido Popular (PP), liderado por Mariano Rajoy. A campanha eleitoral se desenrolou em meio ao agravamento da situação econômica do país, para a qual os dois candidatos tem propostas ligeiramente diferentes. Mas o que marcou o governo Zapatero e polarizou o país foram medidas sociais adotadas pelos socialistas.

Na última sondagem, Zapatero tinha 43,4% das intenções de voto; Rajoy, 39,3%. As pesquisas revelam uma disputa apertada, uma situação de empate técnico.

Depois de 14 anos crescendo, a economia começou a perder fôlego. Contra isso, os socialistas propõem ampliar gastos públicos. E o PP, cortar impostos. Mas o que está em jogo na Espanha não parece ser tanto as linhas mestras da economia. Zapatero optou, por exemplo, por manter uma política conservadora de rigoroso superávit fiscal, defendida com paixão também pela direita espanhola. Além de todas as limitações impostas pelo mercado e por investidores, Zapatero tem margem reduzida de manobra na economia também porque muitas das decisões são tomadas no âmbito da União Européia.

As diferenças mais marcantes entre os candidatos estão no campo da moral e do comportamento. Num país ainda fortemente católico, Zapatero legalizou casamentos de pessoas do mesmo sexo, permitiu que casais gays passassem a adotar filhos e aprovou pesquisas com células-tronco. Tudo isso por cima da uma oposição ferrenha do PP e da Igreja Católica.

O premiê, que retirou as tropas espanholas do Iraque logo no início do governo, também aprovou novos estatutos de autonomia de regiões espanholas. A iniciativa foi repudiada pelo PP, que apresentou seis recursos à Corte Suprema contra o estatuto da Catalunha. Um eventual governo do PP poderia retardar a aplicação dos estatutos e frear a onda de reformas sociais.

AP O líder do Partido Popular, Mariano Rajoy, que espera levar os conservadores de volta ao poder na Espanha Rajoy, que em 2004 tentou se eleger, é o candidato dos setores conservadores, da Igreja e dos que julgam, que diante da crise econômica, um homem da direita tem mais habilidade para encontrar soluções recorrendo a medidas que favoreçam os negócios.

Noutro tema importante para a Espanha, a imigração, o governo de Zapatero (que regularizou 700 mil estrangeiros em 2005) foi aos poucos endurecendo as regras e hoje adota posições bem parecidas com as do PP, que para muitos exalam algo de xenofobia. Algumas restrições a estrangeiros têm a ver com o momento econômico. Desde o ano passado, as taxas de desemprego vêm crescendo, e o setor imobiliário, perdendo fôlego. Em um ano, o número de espanhóis sem emprego aumentou em 240 mil, chegando a 2,3 milhões.

Os candidatos têm remédios distintos. Zapatero fala em usar parte dos recursos do superávit fiscal (de mais de 2% do PIB) para investir em infra-estrutura e estimular a economia. Rajoy promete isenções fiscais para empresas.

"Zapatero fez reformas importantes, ampliou liberdades, mas ante uma crise econômica, a direita sempre soube operar melhor", avalia o empresário Angel Raga, produtor de laranjas em Valencia. "Mas como a crise ainda não chegou aos bolsos da classe média, Zapatero deverá mesmo vencer." (Com agências internacionais)