Título: Bradesco anuncia a compra da Ágora por R$ 830 milhões
Autor: Christina Carvalho , Maria ; Pavini , Angelo
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2008, Finanças, p. C14

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, está otimista com o potencial de expansão do home broker na base de clientes do conglomerado: "O céu é o limite" O Bradesco fechou ontem a compra da corretora Ágora. O negócio saiu por R$ 830 milhões, dos quais R$ 330 milhões referem-se ao valor de mercado das ações da Bovespa Holdings e da BM&F S.A. A aquisição garante ao Bradesco o primeiro lugar no ranking de intermediação dos negócios de pessoas físicas com ações pela internet (home broker), o segundo lugar nas operações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o nono na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

O pagamento será feito em ações representativas de 8% do capital social do Banco Bradesco BBI, o braço de banco de investimento do conglomerado Bradesco. A concretização do negócio depende de "due dilligence" a ser concluída ainda no primeiro semestre deste ano. Cerca de 40% do valor do negócio ficarão retidos em uma conta gráfica para compensar eventuais ajustes.

Fundada em 1993, a Ágora era controlada pelo Grupo Opus, formado por ex-executivos do Banco Pactual, que possuíam 53% das ações. O Bradesco tem o direito de preferência caso os ex-controladores da Ágora queiram vender as ações do banco de investimento.

A Ágora será uma subsidiária integral do banco de investimento e será mantida separada da corretora Bradesco, com administração independente. O Bradesco pretende conservar os funcionários da corretora, inclusive os da unidade carioca. O atual presidente da Bradesco Corretora, Aníbal César Jesus dos Santos, vai comandar a Ágora, no Rio.

A aquisição da Ágora, disse o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, revela a intenção do banco de ampliar a presença no mercado de capitais, cada vez mais importante para o desenvolvimento econômico e o financiamento dos planos de expansão das empresas. Cypriano lembrou que o volume médio negociado na Bovespa saltou de US$ 166 milhões em 2002 para US$ 3 bilhões neste ano, concentrando 80% das operações com ações da América Latina. O volume médio diário negociado no home broker cresce à média de 113% ao ano desde 2002 e atraiu o Bradesco. Com 29 mil clientes ativos, a Ágora era a maior corretora do home broker, com R$ 44 bilhões negociados em 2007; e a corretora Bradesco, com 107 mil clientes habilitados e um total de 133 mil, ficava em segundo lugar, com R$ 14 bilhões.

As duas juntas somam agora R$ 58 bilhões, posição confortavelmente à frente da segunda colocada, a Título, com R$ 13 bilhões, e bem à frente da corretora do Itaú, com R$ 11 bilhões. Mas Cypriano acredita que pode alavancar muito mais os números, dada a base de clientes do banco e "o interesse cada vez maior da população". "O céu é o limite", afirmou.

Nos negócios com ações na Bovespa, o Bradesco também saiu ganhando. Estava no 13º lugar no ranking de 2007, com R$ 55 bilhões negociados enquanto a Ágora ficava em segundo, com R$ 184 bilhões, depois do Credit Suisse, com R$ 205 bilhões. As duas corretoras somadas chegam a R$ 239 bilhões e assumiriam o segundo lugar não tivesse o Credit Suisse adquirido a Hedging Griffo, que negociou R$ 121 bilhões em 2007.

No mercado futuro, as duas corretoras chegam a R$ 2,6 bilhões negociados em 2007 - R$ 2,3 bilhões da Ágora e R$ 269 milhões da Bradesco - e estão longe da primeira colocada, a Link, com R$ 9,8 bilhões negociados no ano passado.

A venda da Ágora para o Bradesco é mais um bom negócio feito pelo ex-Banco Pactual Eduardo Plass, hoje presidente do Grupo Opus. A empresa de gestão de recursos e fusões e aquisições comprou 23% da Ágora em outubro de 2005, aumentando a participação para 53% em novembro de 2006. A Opus tenha pago aproximadamente R$ 80 milhões por metade da Ágora, estima o mercado.

O trabalho da Opus foi reestruturar a corretora, criada por Selmo Nissenbaum, em 1993, com um empréstimo de US$ 350 mil feito pela construtora da família, que ele pagou um ano depois.

A corretora era, porém, pouco lucrativa. A entrada da Opus serviu para reforçar os investimentos necessários e disciplinar os gastos. Nissenbaum acabou se afastando em junho. Os resultados melhoraram. O lucro da Ágora disparou atingindo R$ 39 milhões em 2007, um retorno de 64%, sem contar mais R$ 100 milhões obtidos na venda das ações das bolsas.