Título: Cai relação entre cesta básica e mínimo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2008, Brasil, p. A4

Os trabalhadores comprometeram menos o seu salário mínimo com a aquisição da cesta básica ao longo de 2007 do que no ano anterior, embora o preço médio tenha subido mais que o aumento do mínimo no período. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na capital paulista, os trabalhadores gastaram em média 51,95% do salário mínimo com cesta básica, ante 52,67% em 2006. A relação é a menor já apurada desde 1972, de 49,65%.

A redução também foi observada em outras demais capitais, mesmo nas que registraram a maior variação no preço da cesta básica no ano. Em Aracaju, onde o preço da cesta subiu 24,38% em 2007 - a maior alta apurada entre as 16 capitais - , fechando dezembro a R$ 171,16, o índice de comprometimento do salário mínimo foi de 39,76%, ante 40,59% no ano anterior. Em Goiânia, onde o preço da cesta variou 24,21% no ano, para R$ 189,34, o índice baixou para 42,94%, ante 44,02% em 2006.

No Rio de Janeiro, onde a cesta subiu 13,46% no ano, para R$ 194,46 em dezembro, o indicador ficou em 49,4%, 0,1 ponto percentual a menos que no ano anterior. Em Brasília, o índice baixou de 50,19% em 2006 para 47,76% no ano passado. Na capital federal, o preço da cesta subiu 12,44%, encerrando o ano a R$ 193,23. Em Belo Horizonte, a terceira cesta mais cara do país, o nível de comprometimento do salário mínimo se reduziu em 1 ponto percentual, para 48,51%. Das capitais analisadas pelo Dieese, Porto Alegre foi a única em que o grau de comprometimento do salário mínimo com a compra de cesta básica aumentou em 2007, passando de 51,79% para 52,44%. O preço da cesta na capital foi o segundo maior, de R$ 212,92, perdendo apenas para São Paulo.

José Maurício Soares, economista do Dieese, observou que a relação média foi menor em 2007 em função da queda nos preços dos alimentos no primeiro semestre, mesmo período em que houve aumento do salário mínimo, de R$ 350 para R$ 380 a partir de abril. "O percentual de comprometimento do salário mínimo começou alto e caiu depois de abril, voltando a subir novamente nos últimos três meses do ano", afirmou.

"O aumento do salário mínimo ocorreu antes da alta da cesta básica e o valor mais alto prevaleceu por mais meses, o que neutralizou parte do aumento de custos, mesmo a cesta básica tendo subido mais no ano que o valor do salário mínimo", afirma Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. O economista observou, no entanto, que, em função da alta nos preços das commodities agrícolas, a tendência é de aumento nos preços de alimentos e da cesta básica neste início de ano. "A valorização da cesta básica vai corroer o salário até abril, quando ocorre o novo reajuste", disse Silveira. A dúvida, segundo ele, é saber se nesse intervalo de tempo o trabalhador terá perda real de renda, já que a previsão do governo é elevar o salário mínimo em 7,6%, passando para R$ 408,90, o que significará um ganho real próximo a 3%.

Ainda segundo o Dieese, em todas as capitais, a alta da cesta básica em 2007 superou o reajuste do mínimo concedido em abril, de 8,57%. As altas variaram de 11,46% a 24,38%. A valorização, segundo Soares, do Dieese, deveu-se sobretudo à alta nos preços dos alimentos, com destaque para o "feijão de cores", que subiu mais de 200% no ano. (Com FolhaPress)