Título: Com pouca chuva, energia no mercado atacadista sobe 92%
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2008, Brasil, p. A5

Com poucas chuvas na primeira semana de janeiro, explodiram os preços do mercado atacadista de energia elétrica. Até o dia 11, foi fixado o valor de R$ 475,53 para o megawatt-hora (MWh) - aumento de quase 92% em relação aos R$ 247,01 válidos até sexta-feira. Para analistas, a alta dos preços reflete a escassez de chuvas e o aumento das preocupações com o abastecimento ao longo de 2008. No Sudeste e Centro-Oeste, as precipitações chegaram a apenas 46% da média histórica das últimas sete décadas, na primeira semana do mês.

Os reservatórios das duas regiões estão com 44,9% e já diminuíram 1,3 ponto percentual em janeiro - pleno período chuvoso, quando deveriam estar enchendo rapidamente. No último trimestre de 2007, em parte devido ao fenômeno climático La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico na linha do Equador, o volume de chuvas já havia ficado abaixo da média e deixou os reservatórios das usinas hidrelétricas, com exceção daqueles situados na região Sul, no menor nível para o período desde 2004.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem acionado diariamente cerca de 4.500 MW de energia térmica para preservar os reservatórios. A maior parte, em torno de 3.800 MW, está no Sudeste/Centro-Oeste. Mas a falta de gás pode atrapalhar a intensificação do uso das termelétricas. No domingo, a usina Norte Fluminense devia ter gerado 793 MW médios, mas produziu 71 MW médios a menos por "menor disponibilidade de gás natural" das 8 horas às 23 horas, segundo informou o operador. O temor no setor elétrico é que não haja gás suficiente para atender todos os consumidores caso as usinas a gás sejam todas ligadas.

Isso ocorrerá se o nível de armazenamento de águas nas represas do Sudeste/Centro-Oeste não atingir 53% da capacidade máxima no fim do mês. Esse patamar, que muda mensalmente, define a margem mínima de segurança para a operação do sistema sem sobressaltos no futuro próximo. Se esse nível não for alcançado, todas as térmicas terão de ser acionadas, não importa qual o preço da energia produzida. Não significa que o país esteja à beira de um apagão, mas que é necessário ligar as termelétricas e economizar água dos reservatórios antes de ser tarde demais.

O ONS conta com a volta das chuvas nos próximos dias. Ontem, a Secretaria Nacional de Defesa Civil emitiu alerta de precipitações fortes no Distrito Federal e em nove Estados das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Os reservatórios do Nordeste estão com 27% de sua capacidade máxima, mas a situação é um pouco mais tranqüila porque as chuvas se intensificam apenas em fevereiro na região e o nível mínimo de segurança para as represas, nesta época do ano, é de 10%. No Norte, os reservatórios estão com 30% do total.

Para a Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), é preciso iniciar uma campanha para o uso racional de eletricidade. "Os segmentos que mais aumentaram o consumo foram os residenciais e comerciais, diz o presidente da Anace, Paulo Mayon.