Título: Contestada, inflação argentina 'arrefece' para 8,5%
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2008, Internacional, p. A9

A inflação oficial na Argentina foi de 8,5% no ano de 2007, informou ontem o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, equivalente ao IBGE brasileiro). O índice é amplamente questionado desde que, há um ano, o governo interveio no Indec, demitiu toda sua diretoria e abriu uma disputa com os funcionários do órgão que contestam a intervenção.

Segundo o Indec, a inflação de dezembro - primeiro mês da gestão da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner - ficou em 0,9%, pressionada pela alta dos preços do "limão, tangerina, peras e sandálias para mulher". Economistas e analistas independentes calculam que a inflação real no país é mais que o dobro do índice oficial, superando os 20%.

Em outubro, uma equipe do Indec foi despachada para os EUA para estudar a metodologia de cálculo do núcleo da inflação. A intenção era alterar a metodologia oficial para neutralizar os efeitos das variações sazonais de preços. Semana passada o Indec disse que o índice de dezembro ainda não incorpora a nova metodologia.

O economista Miguel Kiguel, diretor da consultoria Econviews, é um dos economistas independentes que não acredita no índice oficial divulgado pelo Indec. Sua consultoria calcula em 20% a inflação de 2007 e ele acha que para 2008 o índice deve ser o mesmo. "Há pressões de alta como os preços dos serviços públicos e dos planos de saúde que subiram este mês e outros reajustes devem acontecer nas próximas semanas ou meses", disse Kiguel ao Valor.

Kiguel acha que, por outro lado, o governo Cristina Kirchner já mostrou que está empenhado em usar sua força entre os eleitores (ao menos neste início de governo) para segurar os reajustes de salários na faixa de 15% a 20% no ano, o que poderá refrear os preços. Também o BC está firme em seu projeto de controlar o volume de dinheiro em circulação para evitar pressões inflacionarias. O governo argentino não usa meta de inflação nem a taxa de juros como instrumento de controle.

Pelas medidas tomadas desde que tomou posse - aumento nas retenções sobre exportações, programa de controle dos preços do leite, liberação de reajuste das tarifas de transportes públicos, proibição da exportação de combustíveis - outros economistas dizem que a nova presidente pode estar planejando "esfriar" a economia argentina, após de cinco anos de crescimento contínuo na faixa de 8% a 9% ao ano. Kiguel não concorda. Para ele, os ajustes anunciados até agora apenas corrigem distorções que se acumulavam.