Título: Dólar fraco afeta exportação de máquinas
Autor: Cruz , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2008, Finanças, p. C1

A taxa de câmbio tem inibido as exportações de máquinas agrícolas, o que deve aumentar a dependência que as vendas externas do setor têm dos países do Mercosul. Hoje, cerca de 50% dos embarques são feitos para países da América do Sul. A maior fatia é destinada à Argentina.

As compras feitas por países das Américas Central e do Norte, por exemplo, tendem a ser feitas nas fábricas que as multinacionais que atuam no Brasil têm na Europa ou na própria América do Norte. "A competitividade é mais baixa nas exportações feitas para fora da América do Sul. Não é apenas o câmbio que pesa, mas toda a cadeia: os portos, a tributação, a burocracia", diz Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Em 2007, foram exportadas 27 mil máquinas, número que pouco deve mudar neste ano. Por conta da crise no campo, o segmento registrou, em 2005, pela primeira vez na história, exportações superiores às vendas no mercado interno. Naquele ano, os embarques somaram 30,7 mil unidade e vendas internas de 23,2 mil. "No geral, o setor andou bem, mas a competitividade das exportações continua ruim", afirma o dirigente.

Entre 2006 e 2007, as exportações de máquinas agrícolas subiram 20,6%. Em volume financeiro, os embarques passaram de US$ 2,1 bilhões para US$ 2,4 bilhões, uma alta de 13,8%. No mesmo intervalo, a produção nacional de máquinas cresceu 41%, de 46 mil para 64,9 mil unidades. As vendas no mercado interno avançaram 49,2% de um ano a outro, passando de 25,6 mil para 38,2 mil máquinas.

O avanço dos preços dos grãos no mercado internacional também reforça a tendência de que os vizinhos do Mercosul ganhem ainda maior relevância nas exportações brasileiras do setor, afirma Rego. A Argentina, grande produtora de soja e trigo, compra cerca de 40% do que as fábricas brasileiras vendem ao exterior.

O mercado de colheitadeiras de cana ganhou impulso extra com a antecipação, de 2021 para 2014, do programa de eliminação da queimada nas lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo. Ainda assim, parte da produção nacional dessas colheitadeiras deve continuar sendo vendida ao exterior. "O Brasil vai permanecer exportador e isso não deve mudar no curto ou no médio prazo. A capacidade instalada dá conta da demanda interna e muitos projetos de usinas acabaram sendo engavetados", diz Rego. América Central e Ásia são os principais compradores.

A capacidade instalada de colheitadeiras de cana é de pouco menos de mil unidades anuais. Somadas todas as categorias, foram produzidas 5,1 mil colheitadeiras em 2007, volume 120% superior ao do ano anterior. Mais da metade, ou 2,7 mil unidades, foi vendida ao exterior.

Para o setor de máquinas, mais do que atestar a recuperação da renda agrícola, o ano de 2008 servirá para para mensurar a recuperação da capacidade de investimento dos produtores, avalia o dirigente. Ainda que em 2007 o número de unidades produzidas no Brasil tenha subido na comparação com os dois anos anteriores, ainda está aquém do desempenho registrado em 2004, de 66,9 mil.

No momento, a perspectiva é otimista. A Anfavea projeta crescimento de 9,5% na produção, para 71,2 mil máquinas. O mercado interno deve absorver 44 mil unidades, uma alta de 14,9%.