Título: Pressão inflacionária na AL inquieta bancos
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Fonte: Valor Econômico, 08/01/2008, Finanças, p. C2

Grandes bancos comerciais internacionais começam a ter "algumas inquietações"' com crescente pressão inflacionária em quase toda a América Latina, "mesmo em países bem administrados como o Brasil", devido à forte demanda, e estimam que pode haver alta de juros para enfrentar a situação.

Foi o que indicou ontem Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), entidade que representa grandes instituições financeiras internacionais.

"A América Latina está em diferente ciclo dos EUA, pelo menos no primeiro semestre deste ano", disse o executivo, numa alusão ao fato de os EUA e a Europa estarem baixando os juros para combater a desaceleração em suas economias.

Para o representante dos bancos, o "constrangimento" do cenário atual para o Brasil, e que vale para outros emergentes, é que se endurecer a política monetária, vai afetar também a política cambial. "Pode haver três efeitos negativos sobre o crescimento: juro maior, moeda mais valorizada e menor competitividade das exportações", afirmou.

A entidade não prevê recessão nos EUA, mas desaceleração no primeiro semestre. Acha que o futuro dependerá de ação coordenada das autoridades monetárias. Para Dallara, o Brasil e os outros emergentes poderão em todo caso sofrer com a deterioração econômica americana, principalmente no segundo semestre do ano.

No Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, ocorreu primeiro reunião entre autoridades monetárias e bancos privados para avaliar a situação financeira global. Ontem, foi a vez de os banqueiros centrais examinarem a conjuntura econômica.

O presidente do BC do Canadá, David Dodge, disse que a valorização do dólar canadense está alimentando inflação e outros riscos aumentaram sobre o crescimento econômico. O presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, afirmou que o excedente comercial e maior inflação é que provocam a valorização do iuan.

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, que atua como porta-voz dos dez maiores bancos centrais, deu entrevista ao final do encontro, que mais pareceu a gravação de sua ultima entrevista no mesmo local, no fim de 2007.

O próprio Trichet tratou de dizer que a avaliação econômica "não mudou significativamente" desde então. Primeiro, os BCs consideram que a expansão da economia global continua sendo "robusta". E que persistem riscos no cenário, como o impacto que a alta de preços das matérias-primas e pressões protecionistas sobre o crescimento e a inflação.

Depois de destacar a dinâmica "muito, muito impressionante" das economias emergentes, notando que elas saíram "intactas" da crise nos mercados financeiros, Trichet alertou que não estão totalmente imunes já que "somos todos interdependentes".

Ele conclamou os bancos centrais a não terem "complacência" contra a inflação, cujo risco globalmente disse estar em alta. Também deixou claro que os principais BCs estão preparados para voltar a intervir e garantir liquidez no mercado. (AM)