Título: Dólar barato deve evitar que Petrobras reajuste combustíveis
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2008, Brasil, p. A2

Com a forte alta do petróleo no mercado internacional, a diferença entre os preços dos combustíveis no Brasil e no exterior começa a se tornar mais significativa. A valorização do câmbio é que tem atenuado o problema. Segundo a Rosenberg & Associados, a defasagem entre a cotação da gasolina na costa do Golfo do México e a negociada no Brasil estava, no dia 3, em 10,21%. Se levada em conta a média dos últimos 30 dias, a diferença é menor, de 6,92%. No dia 3, o barril do petróleo estava cotado a US$ 102,44, e o dólar, a R$ 1,672. A discrepância é bem maior no caso do óleo diesel: 25,84% na média de 30 dias.

Mesmo com essas diferenças, a expectativa dos analistas é de que a Petrobras não promova reajustes de preços, pelo menos por enquanto. A estatal costuma agir apenas quando a defasagem é maior e se prolonga por um período mais longo.

O economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg, não espera aumento dos combustíveis neste ano. Ele lembra que o reajuste mais recente promovido pela Petrobras ocorreu em setembro de 2005, num momento em que a gasolina na costa do Golfo do México chegou a ficar 38,64% mais alta do que no Brasil, na média de 30 dias. No caso do diesel, a diferença era de 40,4%. Naquele momento, o barril do petróleo WTI estava cotado a US$ 64,08, enquanto o dólar era negociado a R$ 2,31.

Além de a diferença ser elevada naquele momento, ela vinha crescendo de modo persistente. Pulou da casa de 4% a 5% em maio para quase 40% em setembro de 2005. Mesmo assim, os reajustes promovidos pela Petrobras foram modestos: 10% no caso da gasolina e 12% no caso do óleo diesel.

"Se o petróleo e o câmbio se mantiverem próximos dos atuais patamares, não deve haver aumento de preços neste ano", afirma Azevedo, lembrando ainda que 2008 é um ano eleitoral. Antes de novembro, ele considera muito improvável que haja um reajuste dos preços.

O petróleo é uma das commodities que subiram com força nas últimas semanas. O produto tem sido negociado na casa de US$ 100 o barril ou até acima disso. Ao mesmo tempo, o câmbio se mantém valorizado, graças aos fluxos elevados de investimentos estrangeiros diretos e dos capitais que vêm ao país para aplicar em títulos de renda fixa e ações. Na sexta-feira, o dólar fechou em R$ 1,682.

A MB Associados faz um cálculo da defasagem considerando uma média móvel trimestral. Por esse critério, a diferença, que era de 3,3% em outubro, subiu para 8,2% em fevereiro. O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, diz que essa defasagem é insuficiente para levar a Petrobras a reajustar as cotações, ressaltando que o câmbio valorizado tem sido providencial para amortecer o impacto da alta do petróleo.

Nesse cenário, ele também não trabalha com reajustes dos combustíveis neste ano, embora acredite que haverá alguma alta do dólar ao longo do ano. Vale projeta um câmbio de R$ 1,80 em dezembro. O saldo comercial, vale lembrar, tem encolhido velozmente, enquanto as remessas de lucros e dividendos aumentam com força, combinação que reduz o fluxo de dólares para o país.

Uma desvalorização dessa magnitude, porém, não deve levar a Petrobras a aumentar os preços dos combustíveis, desde que não haja uma disparada das cotações do petróleo no mercado internacional, diz Vale. Para 2009, as coisas podem mudar de figura. Como a expectativa é de queda adicional do saldo comercial, o dólar tende a subir mais no ano que vem. Nesse cenário, o câmbio deixaria de atenuar os altos níveis dos preços do petróleo, e estaria aberto o caminho para um reajuste dos combustíveis.

Vale projeta uma inflação de 4,5% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano, exatamente o centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC). Azevedo aposta em 4,4%. Um eventual aumento da gasolina tenderia a jogar o indicador acima desse alvo. Vale lembra que um reajuste de 10% das cotações da gasolina na bomba provoca um impacto de 0,45 ponto percentual no IPCA.