Título: Superjaneiro pode acelerar PIB de 2008
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2008, Brasil, p. A2

O surpreendente resultado da produção industrial de janeiro e o aquecimento do varejo estão levando entidades de classe, bancos e consultorias a reverem para cima as projeções de crescimento da economia brasileira para 2008. Na avaliação da RC Consultores, do BNDES e da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a atividade econômica está mostrando que tem base para crescer acima dos 5,2% a 5,3% previstos para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2007, cujo dado oficial será divulgado pelo IBGE na quarta-feira. Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, desenha um primeiro semestre bastante aquecido. "Os primeiros indicadores de 2008, com a indústria crescendo 8,5% e o comércio acelerando a uma velocidade de 9%, mais o alto preço das commodities, estão indicando uma situação bastante confortável".

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), calcula que se o PIB de 2007 crescer mais de 5%, como está imaginando o governo, já carrega mais de 2% de crescimento para 2008. "Junto com a expansão da indústria nós estamos calculando que existe possibilidade do PIB de 2008 crescer mais para o patamar de 5%. Nosso teto era 4,5%".

Freitas aposta no avanço do investimento e no vigor da indústria para continuar acelerando a economia nestes primeiros seis meses. Pressagia, porém, que o juro futuro, que voltou a subir na semana passada após o comunicado "audacioso" do Copom dizendo que "está monitorando atentamente a conjuntura", possa levar a alguma desaceleração no segundo semestre, com crédito e investimento mais caros. "Mas nada capaz de fazer o país menos de 4,5%".

Fernando Puga, assessor da presidência do BNDES, confirma a expectativa do banco de uma a taxa de expansão da economia de 5,5% este ano. "Já estamos largando na frente", disse. Ele explica que projeção do BNDES foi feita com base no mapeamento dos projetos de investimento no portfólio do banco, que funciona como indicador antecedente do nível de atividade. "Os setores mapeados respondem por 50% do investimento entendido como formação bruta de capital fixo (FBCF) na economia".

As aprovações de projetos no banco, um estágio anterior ao desembolso, somaram R$ 98 bilhões em 2007, dos quais R$ 19 bilhões são de projetos de energia elétrica, e R$ 18 bilhões de transporte terrestre, incluindo rodovias e ferrovias. "Estamos seguros de que vamos liberar R$ 80 bilhões a R$ 85 bilhões ou mais para financiar, em grande parte, a construção de novas plantas industriais e obras de infra-estrutura". Puga informou que o BNDES trabalha com uma taxa de crescimento entre 6% a 7% para a indústria extrativa e de transformação este ano.

O banco Itaú está trabalhando com uma taxa de expansão do PIB deste ano na faixa de 4,8%, ante 5,4% para 2007. Segundo Aurélio Bicalho, economista da área de análise do banco, esta projeção já embute o forte crescimento da indústria em janeiro. Bicalho avalia, porém, que o crescimento do primeiro trimestre será um pouco mais fraco que os dois últimos de 2007 porque as quedas da produção industrial em novembro e dezembro deixaram uma "herança" mais fraca na margem para este início de ano em relação ao fim do ano passado. Ele estima que o PIB do último trimestre de 2007 tenha crescido 5,9% ante o mesmo período de 2006 e 1,3% ante o terceiro de 2007. Ele não crê que isto atrapalhe o avanço da economia já que os dados continuam apontando para um forte aumento este ano.

Silveira está convencido de que este impacto deve acontecer em 2009, tanto que já projeta um PIB de 4% para o ano que vem. "O Brasil vai ser afetado por esta crise na sua receita de exportação já que os preços das commodities podem ter uma ligeira queda no final do ano. Mas não a ponto de prejudicar o crescimento de 5,5% . A partir do quarto trimestre já podemos começar a sentir um pouco deste enfraquecimento global, principalmente se os Estados Unidos crescerem apenas 0,5% este ano, ou fechar com taxa negativa."

O que mais preocupa Silveira é a possibilidade de o mundo entrar numa "onda inflacionária" em dois meses. Ele considera isto inevitável dado a alta das commodities agrícolas, como soja, açúcar, milho, trigo e minério e aço. "Os índices de preços no atacado vão engordar por conta de movimentos especulativos". Ele avalia que esta alta da inflação não deve durar, mas pode enfraquecer mais o nível de atividade global.

Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, também está preocupado com o comportamento dos preços. Ele trabalha com um PIB de 4,5% para 2008, pois acha difícil o país repetir o crescimento de 5,3% esperado para 2007. "Para crescermos mais de 5% este ano, como quer o Mantega [ministro da Fazenda], os investimentos teriam que crescer num ritmo superior ao atual, duas vezes e meia o PIB, para manter o nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) estabilizado", diz. "Se o NUCI continuar em níveis elevados vai gerar pressões inflacionárias, levando o BC a subir juros".

A LCA Consultores não reviu sua projeção de PIB para 2008, mantendo-a em 4,5%. Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria, explica que não avançou mais neste número por causa do setor externo. "As exportações e o saldo comercial estão aí para mostrar que as coisas não vão bem por este lado, enquanto as importações estão disparando", disse Borges. No seu cenário, enquanto a demanda doméstica cresce a taxas superiores a 6%, a contribuição externa para o PIB este ano vai continuar negativa em 1,8 ponto percentual, acima dos 1,6 ponto de 2007. Outro ponto que pode ter influência negativa em 2008 é o salário mínimo. "O mínimo teve um crescimento real de 4,5%, o mais baixo desde 2004, que poderá influir no consumo das famílias, principalmente no Norte e Nordeste, puxando o consumo para baixo".