Título: Duda volta a atuar em campanhas eleitorais
Autor: Felício , César ; Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2008, Política, p. A6

Duda Mendonça: primeira campanha já acertada pelo publicitário é a do candidato do PSDB à Prefeitura de Salvador, Antonio Imbassahy Duda Mendonça está de volta, na primeira eleição municipal desde a crise do mensalão. Pouco mais de dois anos depois de aparecer de surpresa na CPI dos Correios e admitir que recebera de forma irregular recursos no exterior como pagamento de campanhas eleitorais, o publicitário baiano retoma a sua atuação como marqueteiro público. Desde 2007, Duda é réu no Supremo Tribunal Federal, que aceitou denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em janeiro último, foi interrogado pela primeira vez no processo, em Salvador.

Investe em quatro clientes, a maioria da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o tucano Antonio Imbassahy, em Salvador, com quem já fechou o acordo; o senador Marcelo Crivella (PRB), no Rio, e os petistas João da Costa e Luizianne Lins, no Recife e em Fortaleza.

Em 1998, nove anos antes de uma denúncia aceita no Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Duda chegou a tocar onze campanhas eleitorais simultaneamente. Em 2002 obteve seu maior triunfo, com a campanha presidencial de Lula. Sua última participação pública em campanhas eleitorais, em 2004, foi constrangedora: o publicitário foi preso no Rio ao participar de uma briga de galo entre o primeiro e o segundo turno da eleição municipal paulistana, que terminou com a derrota de sua principal cliente de então, a petista Marta Suplicy.

Duda divide o trabalho de prospecção de novas contas com o sócio Eduardo de Matos Freiha. Segundo informações do mercado publicitário, ambos teriam criado um escritório em Salvador para centralizar as operações de marketing político este ano, dissociando-as da Duda Propaganda, que permanece ancorada na zona sul de São Paulo.

A crise do mensalão abateu profundamente a empresa do publicitário baiano, que nunca chegou a ser propriamente de grande porte: faturava cerca de R$ 100 milhões anuais antes de tornar-se motivo de escândalo. Depois de entrar no rol dos acusados, Duda perdeu a conta da Secretaria de Comunicação do governo federal, e, no começo deste ano, a da Petrobras. Permanece com a conta do Ministério da Saúde, cujo prazo foi prorrogado por dois anos seguidos. Divide R$ 88 milhões com quatro outras agências.

Na esfera privada, Duda perdeu o contrato com a Ambev, cujo comercial em que fez o ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona usar a camisa da seleção brasileira ilustra a página da agência na Internet. Segundo o publicitário declarou em uma palestra para estudantes de direito em 2007, seu maior cliente privado era a construtora Gafisa.

A incursão política no Rio foi feita pelo próprio Duda. O publicitário esteve com o senador Marcelo Crivella (PRB) para entregar formalmente uma proposta de trabalho. Mas Crivella está negociando com pelo menos outros dois marqueteiros, a quem pediu propostas de trabalho.

Em sua cidade natal, Duda fechou o acordo com o seu primeiro cliente em um jantar. Antonio Imbassahy, ex-prefeito de Salvador e provável candidato do PSDB, acertou a participação de Duda ainda no final do ano passado. Segundo o tucano, Duda, não comandará sua campanha, mas servirá como um conselheiro, dando dicas e sugestões durante o período eleitoral.

"Ele não fará nenhuma campanha pessoalmente, mas vai colaborar com a minha, pois me considera um amigo", diz. Nesta semana, propaganda feita pela Malagueta Filmes, produtora comandada pelo filho de Duda, Alexandre Mendonça, começou a promover Imbassahy. O filme lembra que o engenheiro foi considerado o melhor prefeito do país e chegou a ter 92% de aprovação dos soteropolitanos.

A parceria entre Duda e Imbassahy não é de hoje. O ex-prefeito conta que em sua última campanha vitoriosa, em 2000, o publicitário já lhe dava conselhos e alguns "mimos". Um deles foi aterrissar em Salvador com um jingle feito especialmente para o tucano. Questionado se essa aproximação não pode ser ruim para sua imagem, Imbassahy é taxativo: "Não acho que trará problemas. Nem para mim, nem para Duda". Ele é um profissional competente."

-------------------------------------------------------------------------------- Das três contas federais que o publicitário tinha antes do mensalão, restou apenas a do Ministério da Saúde --------------------------------------------------------------------------------

As pesquisas mais recentes indicam que o ex-prefeito da capital baiana está em quarto lugar, com 12% das intenções de votos, empatado com Lídice da Mata (PSB), também ex-prefeita da cidade. A disputa promete ser acirrada. O radialista Raimundo Varela (PRB) lidera com cerca de 19% dos votos, o atual prefeito, João Henrique Carneiro (PMDB), tem 16%, e é seguido de perto por Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), com 15%.

Imbassahy e Duda Mendonça terão de trabalhar com afinco. Mesmo tendo rompido com o então senador Antonio Carlos Magalhães e passado do DEM para o PSDB em 2005, o tucano ainda é muito atrelado ao carlismo na Bahia. Pesquisa realizada pelo partido mostra que cerca de um terço dos eleitores, ainda fiéis aos valores representados por ACM, votariam em Imbassahy. Agora a situação se complica, porque, com ACM Neto na disputa, a tendência é que esses eleitores migrem para o candidato do DEM, bastante identificado com a figura de seu avô.

Embora as relações entre o tucano e Duda Mendonça sejam antigas, o fato de Imbassahy ser o único oposicionista com quem o marqueteiro baiano negocia não é casual. Imbassahy tem conversado com a situação. Esteve recentemente com Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, do PT, e com o governador de Minas, o tucano Aécio Neves. O baiano acredita que é possível repetir na Bahia a dobradinha mineira PT-PSDB. "Estive com os dois (Aécio e Pimentel) e eles me pediram para ampliar esse pensamento", explica.

Minoritário dentro do PT baiano, que tende para a candidatura própria, o governador Jaques Wagner recebeu uma discreta consultoria de Duda Mendonça nas eleições de 2006 e cultiva boas relações com o candidato tucano. Afirmou há pouco tempo que Imbassahy é o candidato mais forte. Ao mesmo tempo, não rejeita apoiar João Henrique, (PMDB) o atual prefeito, que é apoiado por Geddel Vieira, a quem Wagner deve o apoio na campanha para o governo do Estado. O único inimigo declarado do petista é ACM Neto.

No Recife, Duda batalha contra antigos auxiliares pela conta do pré-candidato do PT à prefeitura e atual secretário de Planejamento Participativo, João da Costa. Além de Duda, querem a conta Raimundo Luedy e Edson Barbosa, ambos baianos. As conversas com Duda estão sendo feitas por intermédio de Eduardo Freiha.

Duda foi responsável pela campanha em 2004 de João Paulo (PT), prefeito do Recife e mentor da candidatura de João da Costa. A coordenação local ficou sob a responsabilidade de Raimundo Luedy, que prestava serviços a Duda naquela época. Agora, Luedy tenta seguir uma carreira solo. Primeiro, ele e Edson Barbosa criaram a Link. Em 2006, ambos ganharam a conta da campanha de Eduardo Campos (PSB), agora governador de Pernambuco. Devido a alguns desentendimentos ainda durante a eleição, Luedy e Barbosa se separaram. Este último permanece com a Link e Luedy toca sua própria empresa, a Almada.

Para João da Costa, o fato de Duda ter admitido ter recebido dinheiro de caixa 2 não trará problemas de imagem a sua candidatura. "Duda é muito bom como publicitário. Fez um ótimo trabalho para João Paulo em 2004. O problema com o financiamento da campanha é uma outra questão, com a qual nunca estive envolvido", afirma João da Costa.

A negociação no Ceará é a mais delicada. Freiha cultiva boas relações com o governador Cid Gomes e seu irmão Ciro, do PSB, para quem tocou oficialmente a vitoriosa campanha eleitoral de 2006, em nome de uma outra empresa, a MCP, da qual Duda não era sócio. Também participou Manoel Canabarro, tradicional coordenador das campanhas tocadas pelo publicitário baiano. Na ocasião, a participação de Freiha foi cercada de cuidados para evitar que a imagem abalada do sócio contaminasse a campanha de Cid. Freiha teria chegado a dizer, segundo registrou a imprensa local, que a proximidade de Duda "era uma pecha " que carregava.

O apoio de Cid Gomes à reeleição de Luizianne Lins abriu as portas para Duda Mendonça, por meio de Freiha, assumir o marketing eleitoral da petista. Mas a idéia não transita bem dentro do partido. "Acho difícil. A simples presença de Duda é o anti-marketing", comentou o líder do governo Cid na Assembléia, o petista Nelson Martins. A coordenação da campanha de Luizianne em 2004 esteve a cargo de uma inexpressiva agência local, a Time Associados.

Hoje, quem cuida da imagem da prefeitura é o publicitário Fernando Costa, da Verve Comunicação, uma agência tradicional no Ceará. Segundo informações do mercado publicitário, Costa já teria definido que não fará a campanha da petista.

Procurado pelo jornal em seus escritórios em São Paulo e Salvador, Duda Mendonça não se manifestou. Sua secretária na capital baiana alegou que o publicitário estava em viagem e não poderia responder nem mesmo um questionário por escrito. O sócio Eduardo de Matos Freiha foi procurado no escritório da Duda em São Paulo e também não atendeu ao pedido de entrevista. A prefeita de Fortaleza Luizianne Lins e o senador Marcelo Crivella também se recusaram a atender ao Valor. (Colaborou Ana Paula Grabois, do Rio)