Título: Partido Socialista vence por ampla margem na Espanha
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Fonte: Valor Econômico, 10/03/2008, Internacional, p. A11

AP Zapatero comemora vitória em encontro do partido socialista: economia será desafio central do segundo mandato O Partido Socialista da Espanha, do atual primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, venceu as eleições de ontem, mas ficou a poucos votos de conquistar maioria absoluta no parlamento, o que poderia facilitar a aprovação de medidas para aliviar a desaceleração da economia espanhola.

Com 99,86% dos votos apurados, os socialistas tinham garantido 169 das 350 cadeiras na Câmara dos Deputados - cinco a mais que na legislatura anterior. O conservador Partido Popular (PP) obteve 154 cadeiras - seis a mais que em 2004.

Para conquistar maioria absoluta são necessários 176 assentos. Zapatero terá de negociar apoio com o pequenos partidos para aprovação de leis - algo que já se viu forçado a fazer durante o primeiro mandato.

"Hoje, mais do que nunca, creio em uma Espanha unida e diversa, uma Espanha que vive em liberdade e convive em tolerância", disse Zapatero em um encontro com militantes socialistas.

O premiê reeleito disse que recebeu na noite de ontem, por telefone, os cumprimentos do adversário, o líder do PP, Mariano Rajoy, e prometeu abrir uma nova etapa sem "confronto", comprometendo-se a a buscar "consensos" e a conseguir o máximo de apoio político e social.

O premiê marcou seu primeiro governo com reformas sociais - como casamento de pessoas do mesmo sexo e mais facilidade para o divórcio - mas terá pela frente a tarefa de reduzir o impacto da crise econômica que começa a atingir a Espanha. Durante a campanha, Zapatero prometeu reduzir impostos e ampliar benefícios. Só nos últimos nove meses, 300 mil espanhóis perderam seus empregos - em especial no setor da construção. Diversos analistas já reduziram suas projeções de crescimento da Espanha este ano para cerca de 2%, ante os 3,8% de 2007. "Vou governar para todos, pensando primeiro naqueles que não têm nada", disse o premiê na festa na sede de seu partido.

A economia foi um dos temas centrais da campanhas eleitorais de Zapatero e de Rajoy. Para Nicolas Lopez, analista, M&G, a expectativa do mercado é saber como o governo socialista vai lidar com a crise no setor de construção. "Imagino que o plano de emergência será usar uma parte do superávit orçamentário para revigorar o setor de construção e investir em infra-estrutura e compensar o enfraquecimento da construção de casas".

Além da economia, Zapatero terá de se dedicar - agora talvez de forma mais assertiva - a um velho desafio para os espanhóis: as ações do grupo separatista basco ETA.

Na sexta-feira, a menos de 48 horas das eleições, o grupo foi acusado por todos os partidos da disputa como o responsável pelo assassinato de um vereador socialista. O atentado pode ter ajudado eleitoralmente os socialistas, porque teria encorajado mais eleitores a votarem como forma de manifestar seu protesto nas urnas. Historicamente, o alto comparecimento às urnas favorece a esquerda espanhola, cujos simpatizantes costumam ser mais apáticos em relação às eleições.

O comparecimento ontem foi de 75,3%. Em 2004, quando o atentado da Al Qaeda aos trens de Madri serviu de estímulo adicional para os eleitores, o comparecimento foi de 75,6%. Em 2000, tinha sido menor: 68,7%.

A maioria das pequisas de intenção de voto já apontavam para uma vitória socialista, mas nenhuma delas sugeria que o partido de Zapatero pudesse chegar perto de abocanhar a maioria da Câmara. Analistas afirmaram que uma vitória clara, como a que ocorreu, acalmaria os mercados num momento delicado para a economia espanhola.