Título: Telefônicas disputam internauta gratuito
Autor: Taís Fuoco
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Empresas &, p. B4

O segmento de acesso grátis à internet vive um momento de intensa competição no país, ainda que os números oficiais mostrem que a base de internautas do Brasil não cresce significativamente há dois anos. Na verdade, a disputa é pelo tráfego de telefonia gerado nas conexões de banda estreita, em um momento em que o uso da telefonia fixa para a transmissão de voz está em baixa. A mais recente investida vem da Embratel, também disposta a captar parte do tráfego por meio de novas parcerias do provedor Click21 com os portais Ligaki e DiarioWeb. Assim, os portais passam a dispor de um discador que os torna, também, provedores. Ainda deve chegar ao mercado neste mês o provedor de acesso da Telemar e não saiu dos planos o provedor da Intelig, ainda que esta admita que o projeto depende do processo de venda da companhia, que se arrasta há mais de dois anos. Recentemente, a Telefônica também expandiu o escopo de seu provedor iTelefônica, em parceria com o portal MSN, da Microsoft. A empresa já havia criado um discador para a emissora SBT, com sua infra-estrutura, no ano passado. A Brasil Telecom, no entanto, que controla o primeiro provedor de internet grátis do país, o iG, além do iBest, não teme perder a folgada liderança em função do apetite das concorrentes. "Já somos o maior provedor de internet da América Latina e estamos entre os 15 primeiros colocados no mundo em número de clientes", diz Yon Moreira da Silva, vice-presidente de novos negócios da BrT. Juntos, os dois provedores somam 6 milhões de usuários ativos - designação para os que se conectaram ao menos uma vez nos últimos 30 dias. O Click21, por exemplo, da Embratel, tem cerca de 1 milhão de usuários e o iTelefônica não divulga o número. De acordo com Yon, em 2004 as duas marcas geraram 40 bilhões de minutos de tráfego de telefonia fixa. "Isso é mais de 50% de todo o tráfego gerado na internet brasileira." Segundo Matinas Suzuki, presidente do iG, o fato das demais operadoras estarem investindo na internet gratuita "só mostra que o modelo adotado pelo iG era o mais adequado ao país". O iG e o iBest, de acordo com o executivo, já têm juntos "mais de cem" parcerias de discador, como as que vêm sendo feitas por Embratel e Telefônica. Suzuki lembra que, apesar da investida das demais operadoras, "não houve queda no tráfego gerado por iG e iBest em 2004 e, em termos de assinantes, o iG continua a cadastrar 12 mil usuários por dia, como acontece há quatro anos". Para os portais que fazem acordos com os provedores gratuitos, a iniciativa pode se traduzir na fidelização do usuário, como ressalta Leonardo Xavier, diretor-geral do Ligaki. "Como a maioria dos nossos serviços envolve a interatividade, a sinergia com a internet é muito grande. Com o discador, podemos reter o cliente e criar comunidades", explica. O número de internautas do país, no entanto, "anda de lado", na avaliação de Alexandre Magalhães, analista do Ibope NetRatings, apesar da rede mundial estar ganhando adeptos em locais públicos como telecentros, escolas e bibliotecas. "O fato é que, nas classes A e B, quem tinha de estar na rede já está", afirma Magalhães. Já as classes C e D ainda não conseguem pagar pela infra-estrutura necessária ao acesso. Por isso, por mais opções de acesso gratuito à rede de computadores, o analista do Ibope acredita que o número de usuários só volte a dar saltos quando a principal barreira for removida: o acesso ao computador. Em fevereiro de 2004, o Ibope registrava 12,48 milhões de conexões domiciliares. Em dezembro, o número era de 10,9 milhões. Nos meses anteriores o índice vinha caindo de 12 milhões em setembro, 11,6 milhões em outubro e 11,4 milhões em novembro. Por isso, a situação do mercado de provimento parece ainda mais complicada para quem cobra pelo acesso, como AOL, UOL e Terra, por exemplo. "O acesso gratuito é um sistema injusto porque quem tem telefone é que subsidia os demais", critica Milton Camargo, presidente da AOL. Ele admite, no entanto, que o número de usuários não cresce há dois anos e que "a única forma de concorrer com o acesso grátis é mostrar valor ao usuário".