Título: Mensalão na festa do PT
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Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2011, Política, p. 5

Sigla celebra hoje os 31 anos de sua fundação e tenta redimir os envolvidos no maior escândalo da história da legenda Em seu aniversário de 31 anos, o PT se prepara para tentar resgatar os deputados que terminaram sugados pelo escândalo do mensalão. O primeiro movimento nesse sentido será a indicação do ex-presidente da Câmara e deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Internamente, o gesto vem sendo colocado como a ¿redenção¿ do parlamentar, que, em 2005, foi acusado de receber R$ 50 mil da agência SMPB, do empresário Marcos Valério.

O retorno de João Paulo Cunha à ribalta é considerado crucial para os projetos do PT de, aos poucos, conseguir reduzir essa mancha na sua história. O objetivo do partido é, aos poucos, tentar mudar a imagem no que se refere ao mensalão. Em uma de suas últimas entrevistas, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT deveria enfrentar esse tema e mostrar que não houve o pagamento de mesada ou de vantagens para que seus deputados votassem a favor do governo. Para alguns petistas, Lula, com aquele gesto, estimulou seus correligionários a trabalhar no sentido de convencer o eleitorado de que não houve o mensalão.

Os petistas, entretanto, consideram difícil que o ex-presidente retome esse assunto hoje, um dia de festa. Será a primeira fala de Lula ao seu partido depois que transferiu a faixa presidencial para Dilma Rousseff. Por isso, ao contrário dos anos anteriores, a tradicional recepção numa suntuosa casa de festas da cidade ¿ onde a entrada de militantes era cobrada ¿ foi substituída por um ato político, que será no Teatro dos Bancários.

Reforma política

Assuntos para Lula conversar com o PT, aliás, não faltam. A expectativa dos parlamentares é a de que, como presidente de honra da sigla, Lula dê uma direção ao partido em temas como a reforma política. Esperam dele também um pedido formal de defesa intransigente do governo Dilma, especialmente no que se refere à votação do salário mínimo de R$ 545 no Congresso. Afinal, a direção partidária sabe que parte da bancada está com receio de segurar o apoio a esse valor e, depois, ficar desprestigiada se houver a negociação de valores mais generosos no calor das discussões.

Quanto ao mensalão, os petistas acreditam que o assunto venha a ser debatido em breve nas reuniões fechadas do diretório nacional, até porque o julgamento do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ao que tudo indica, deve ser este ano. A previsão do STF é apreciar o tema no segundo semestre. Será o maior julgamento da história do STF, com 38 réus. E também o maior da história do PT. Internamente, os parlamentares não têm dúvidas: para o bem ou para o mal, chegou a hora de o partido enfrentar esse debate.