Título: Engenharia volta a ganhar mais peso na Andrade Gutierrez
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Empresas &, p. B5

A holding Andrade Gutierrez está se preparando para voltar às origens. Com o lançamento dos projetos de parcerias público-privadas (PPPs) e dos novos lotes de concessão, além dos maiores investimentos privados em siderurgia, petroquímica e mineração, o setor de construção pesada e concessões tem tudo para representar mais da metade da receita do grupo em até três anos. Desde 1998, quando a construtora mineira adquiriu uma participação na Telemar, empresa de telefonia fixa que atua em 16 Estados, telecomunicações tornou-se a maior fonte de receitas do grupo. No ano passado, essa área respondeu por 51% da receita bruta de mais de R$ 4,5 bilhões da holding, contra 38% da engenharia e 11% das concessões. "O objetivo do grupo é que, com o crescimento do Brasil, o setor da construção ganhe mais participação dentro da companhia", diz Rogério Nora de Sá, presidente da Andrade Gutierrez. Em dois ou três anos, o executivo espera que a engenharia volte a ter mais de 50% da receita. A partir de 2006, diz o presidente, os segmentos de engenharia e de concessões já devem engordar suas carteiras com o lançamento por parte do governo dos primeiros projetos de PPPs e da segunda rodada de concessões rodoviárias. Além de estradas e saneamento, nos quais a construtora já participa por meio da Companhia de Concessões Rodoviárias e da Sanepar, a Andrade Gutierrez está também de olho em obras em portos e aeroportos. Hoje, o único investimento que o grupo tem em carteira nessa área é o do aeroporto de Quito, obra de US$ 598 milhões, com início de operação em 2008. Já em ferrovias, Nora acredita que os projetos devem ser disputados por empresas que já têm concessões hoje ou por companhias que precisem escoar suas cargas. Isso porque a maior parte das ferrovias já foi concedida para a iniciativa privada e faria mais sentido as atuais concessionárias ampliarem suas áreas de atuação. Como as PPPs envolverão além da construção dos empreendimentos uma prestação de serviços, Nora explica que esses investimentos serão comandados pela AG Concessões. "Concessões e PPPs devem ser entendidos como negócios nos quais a obra é apenas uma conseqüência. O retorno do investimento vem da operação, não da construção", diz. Por isso a construtora entrará nas PPPs e nos projetos de concessão apenas para realizar a obra, enquanto os serviços e os resultados das empreitadas ficarão sob a responsabilidade da AG Concessões. Mas Nora prefere ainda não dizer o quanto a Andrade Gutierrez investirá nesses projetos de infra-estrutura. De acordo com o executivo, os aportes ainda dependem do lançamentos dos projetos pelo governo, além da regulamentação das PPPs. Além das obras públicos de infra-estrutura, Nora diz que o setor privado também deve incrementar a carteira de obras da Andrade Gutierrez. Os setores que mais vêm demandando serviços desde o ano passado, explica ele, são os de mineração, energia, petroquímica e siderurgia. Essas quatro áreas hoje correspondem por cerca de metade das obras tocadas pela empresa. São projetos como a hidrelétrica de Irapé, obras civis para o ato forno da Cia. Siderúrgica de Tubarão e a ampliação da refinaria Refap. Em 2004, os projetos nessas áreas já ajudaram a elevar a receita da empresa no Brasil de R$ 551 milhões em 2003 para R$ 950 milhões. Por causa desses investimentos do setor privado, Nora acha que o governo deverá intensificar também seus investimentos, principalmente em rodovias, com projetos além das concessões e das PPPs. "Não adianta aplicar em aumento de produção se não houver por onde escoa-la. E rodovia é o meio mais rápido e barato de se fazer isso", explica o executivo. É em decorrência disso que a Andrade Gutierrez projeta para os próximos anos uma expansão de, no mínimo, 20% no segmento de construção e de concessões. As obras no exterior também devem ajudar a alcançar esse resultado. Por isso, a área internacional está sofrendo mudanças. A partir deste ano, Pedro Pereira Neto, presidente da construtora para o exterior, sairá do Brasil para ficar em Portugal, onde em 1988 a Andrade Gutierrez tem a construtora Zagope, para cuidar da Europa e da África. Em 2004, a área internacional faturou 40% dos R$ 1,5 bilhão de receita da construtora. Em 2003, o exterior foi responsável por 59% dos R$ 1,35 bilhão de receita. Já Sá ficará com as atividades no Brasil e na América Latina. "São mercados mais parecidos. Na América Latina, todos os países têm necessidade de investimento, mas falta dinheiro."