Título: CPFL disputará Cesp e Brasiliana para manter liderança
Autor: Ribeiro, Ivo ;Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2008, Empresas, p. B7

Wilson Ferreira Jr.: negocia parcerias para a compra de ativos elétricos, mas não abre o jogo dos nomes dos sócios A privatização da paulista Cesp no fim de março, a licitação da usina hidrelétrica de Jirau em maio e a venda da parte do BNDES na Brasiliana no segundo semestre são três negócios no setor elétrico considerados vitais para qualquer grupo com pretensões de se consolidar como líder no Brasil. A compra dos ativos vai demandar mais de R$ 30 bilhões, mas quem levar um deles ou mais marcará posição no setor.

A Cesp e a Brasiliana, em especial, encaixam-se perfeitamente no portfólio da CPFL Energia, ex-estatal de São Paulo privatizada há uma década e hoje a maior distribuidora elétrica do país, com 14% do mercado. A direção da empresa reconhece que essa é uma oportunidade de ouro para a CPFL dar um salto de crescimento, principalmente em geração de energia. Nesse segmento, ela ainda é pequena: tem só 2%. As estatais federais e três estaduais dominam pouco mais de 50% dessa área.

Um fato conta muito: a Cesp é a última grande geradora de energia à venda. Para a CPFL, conta mais ainda porque as seis usinas da estatal, com potência de 7,2 mil MW, estão todas no Estado de São Paulo, a principal base de atuação da companhia controlada por Previ, Votorantim, Camargo Corrêa e outros fundos de pensão. Dos ativos da Brasiliana, que o BNDES divide com o grupo americano AES, a Eletropaulo desponta com 12% da distribuição de energia e fica no maior mercado do país - São Paulo. Além dela, há a geradora AES Tietê (2,7 mil MW), em São Paulo, e a térmica Uruguaiana (600 MW), no Sul. Só não serão vendidos se a AES decidir ficar com a parte do banco. Jirau está desenhada para gerar 3,3 mil MW, mas só deverá ficar pronta em 2015.

Wilson Ferreira Jr, que preside a CPFL desde 2000 e na sua carreira profissional passou pela Cesp, tem planos de disputar os três ativos. No caso da Cesp, a análise recai sobre o preço mínimo alto vis-à-vis o rico de renovação de concessões. Não irá só, porque o jogo é pesado, mas também não revela com quem está se articulando em cada um dos negócios. No leilão da usina de Santo Antônio, no rio Madeira, uniu-se à espanhola Endesa. Não teve sucesso frente à voracidade do grupo Odebrecht. Seus concorrentes em Cesp e Brasiliana, como Neoenergia, Suez/Tractebel, EDP, entre outros, também desejam esses ativos com o mesmo apetite.

Ele não se deixa abater. Observa que no setor elétrico no país, na linha da tendência mundial, há muito espaço para consolidação. "Em países maduros, três grupos detêm por volta de 60% do mercado. Aqui, os cinco maiores não chegam a isso." Tanto em distribuição quanto em geração. "O que vai ditar as regras é a lógica do ganho de escala", afirma.

A CPFL parece estar preparada para o embate. Com receita bruta de R$ 14 bilhões em 2007, resultado operacional de R$ 3,35 bilhões e lucro recorde de R$ 1,64 bilhão, a concessionária tem dívida sob controle e mais de R$ 1 bilhão em caixa. Desde 2001, superado o solavanco do pesado endividamento em 2002 após o efeito apagão - com socorro dos sócios e do BNDES em 2003 e captação de recursos com abertura de capital na bolsa em 2004 -, a empresa cresceu de forma acelerada. Tocou seis projetos de hidrelétricas, usando grande parte de dinheiro de longo prazo de amortização do BNDES, e fez uma série de reestruturações, incorporações e aquisições na distribuição.

No ano passado, por exemplo, a CPFL gastou R$ 650 milhões em compras, com destaque para a CMS Energy. Como resultado, obteve aumento de R$ 1,5 bilhão na receita líquida.

A distribuição tem peso de 73% no resultado operacional da CPFL. Ferreira Jr. reconhece que precisa dar mais equilíbrio aos três negócios, fato que também já é notado pelos investidores. Geração responde por 16% e comercialização por 11%. Numa folha, escreve, apontando a área de geração: "Precisa crescer aqui." Os 2% de mercado da empresa representam apenas 10% do total privado. Na distribuição, detém 14% (em 1998 eram 6%) do mercado cativo, que é três quartos da energia vendida no país. Novas regras legais vão permitir até 35%. Na comercialização (da chamada energia livre), é líder com 23%.

Relatório da corretora Ativa aponta que a diferença entre as duas áreas na CPFL deverá cair bem nos próximos anos. "O futuro do setor no Brasil passa por investimentos em geração e transmissão", informa, lembrando que transmissão não faz parte do foco da companhia. Ferreira Jr. assegura que esse negócio está fora de questão por ora, pois só faria sentido se pudesse operar uma grande quilometragem de linhas para se obter ganhos de eficiência. Mas, hoje só estão disponíveis trechos. Ele admite que o grupo subestimou o leilão da Cteep, grande do setor em São Paulo, que acabou em mãos da colombiana ISA.

Mas Ferreira Jr. não aceita a tese de que Cesp e Brasiliana são cruciais para a expansão da CPFL. "Há espaço enorme de consolidação no Sudeste e Sul, com muitos ativos de pequeno e médio porte a serem incorporados no futuro. Em geração, aonde tiver ativos disponíveis (novas concessões, projetos grandes e venda de ativos), estaremos lá", afirma.

O executivo diz que adotou na CPFL uma estratégia de cinco vetores, desde que assumiu em 2000, para chegar ao ponto que chegou e ir avante: eficiência operacional, crescimento, disciplina financeira, governança corporativa diferenciada e política de sustentabilidade. Lembra que o setor é tipicamente alavancado - na média 50% de recursos de terceiros, chegando até 70% em projetos de geração. A média do grupo é 52%.

"Somos a primeira do setor a se listar no Novo Mercado e na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) e estamos entre os dez maiores pagadores de dividendos do país - 95% do lucro líquido nos últimos anos", aponta Ferreira Jr. Lembra que na abertura de capital, em setembro de 2004, a CPFL foi lançada por US$ 2,7 bilhões. "Hoje, vale US$ 10 bilhões", comemora.