Título: Fretes marítimos devem manter ciclo de alta neste ano, dizem armadores
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Empresas &, p. B5

Os preços dos fretes marítimos continuarão elevados em 2005, mas os aumentos tendem a ser menores do que os de 2004. A opinião é compartilhada por armadores que operam serviços regulares de navios entre o Brasil e o exterior. As cotações dos fretes dependem do tipo de produto - contêineres, carga geral ou granel - e da rota traçada pelo navio. Mas a alta do combustível, o "bunker" e a disparada nos aluguéis das embarcações devem manter, por mais um tempo, o ciclo de alta dos fretes marítimos no Brasil e no mundo. Um exemplo de aumento dos afretamentos ocorre com contêineres. O custo para se alugar um navio com capacidade de 2,5 mil TEUs (contêineres equivalente a 20 pés) situa-se atualmente em US$ 40 mil por dia. Em janeiro de 2002, a diária no mesmo navio era de cerca de US$ 8 mil, uma alta de 400% no período. Já o bunker, posto no Rio de Janeiro, oscila na faixa de US$ 180 a tonelada, 32% maior em relação à média de 2002. Julian Thomas, diretor-superintendente da Aliança Navegação e Logística e da Hamburg Süd no Brasil, diz que a forte demanda por navios esticou o prazo de vigência dos contratos de afretamento. Há dois anos, lembra, era possível alugar um navio em contrato de seis meses de duração. Hoje, os contratos são por quatro anos e há gente negociando afretamentos em contratos válidos só a partir de 2008. Renato Graça Couto, diretor de vendas da Lachmann, avalia que a área de contêineres tem pressão de custos, mas lembra que há muitos navios sendo construídos no mundo, o que tende a estabilizar os preços dos fretes e até mesmo fazê-los cair em algumas rotas. Na carga geral, que inclui produtos como celulose, os fretes devem demorar mais a ceder e podem até subir um pouco, diz Couto. Já nos granéis líquidos, setor que movimenta produtos como o petróleo, o mercado está estável mas tudo depende dos preços dessa commodity. Para Jacques Cohen, gerente de novos negócios da japonesa NYK Line do Brasil, os preços dos fretes marítimos em 2005 dependerão do grau de concorrência entre os armadores que operam no mercado nacional, do crescimento das exportações e do câmbio, entre outras fatores. "O câmbio pode até contribuir para um balanço mais equilibrado no tráfego de contêineres", prevê ele. No início de 2004, para cada três contêineres transportados no sentido Brasil-Estados Unidos, apenas um retornava. A valorização do real frente ao dólar pode reduzir a rentabilidade do exportador e pode até arrefecer os embarques de mercadorias ao exterior, acrescenta Nelson Luiz Carlini, diretor da francesa CMA CGM no Brasil. Carlini avalia que neste ano os fretes não serão reajustados na mesma velocidade de 2004, pois as empresas estão ampliando capacidade de carga nos navios. É o caso da CMA CGM. A médio prazo a questão é saber se o acréscimo de capacidade nos navios, sobretudo em contêineres, será capaz de atender a expansão do comércio mundial. Há quem diga que os preços dos fretes podem cair com a entrega prevista de navios no mundo a partir de 2006. Outro argumento é de que poderão se manter em alta caso a demanda por transporte cresça o suficiente para ocupar essa capacidade adicional.