Título: Bancos enxergam saída na distribuição de renda
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2008, Finanças, p. C1

A necessidade de melhorar a distribuição de renda da população brasileira e dos demais países da América Latina entrou de vez no receituário dos banqueiros. Ao traçar cenários sobre o futuro do sistema bancário na região, eles destacaram que a redução da desigualdade aumenta o potencial de bancarização e de acesso a produtos financeiros e que esse é um dos grandes desafios para o setor nos próximos anos.

"A distribuição de renda ainda é muito excludente, a renda é muito desigual, apesar de estar melhorando", afirmou Pedro Moreira Salles, presidente e controlador do Unibanco. Segundo ele, as classes A e B representam apenas 12% da população. Para atingir outros públicos, de menor poder aquisitivo, os bancos tiveram de criar produtos, como as financeiras. "E há grandes oportunidades de expansão do crédito para a baixa renda."

Só nos últimos quatro anos, a melhora da distribuição de renda no Brasil elevou à categoria de classe média 4 milhões de novos consumidores, ou uma média de 1 milhão por ano, segundo cálculos de José Juan Ruiz, da divisão latino-americana do Santander. A instituição aposta nesse movimento e no aumento da bancarização como forma de elevar a venda de produtos financeiros na América Latina. "Nosso grande desafio é como vamos vender novos produtos para essas pessoas", questionou Ruiz.

Ele tem prognósticos otimistas para a região. Crê que o crescimento do PIB, somado a um quadro de baixa inflação e de um sistema financeiro saudável deve aumentar o total de pessoas com acesso aos bancos e seus produtos, e, por tabela, ampliar o crédito e os depósitos na região. A previsão de Ruiz é de que os depósitos mais o patrimônio dos fundos mútuos, que hoje respondem por 51% do PIB da América Latina, poderão chegar a 60% do PIB em 2009. O crédito saltaria de 27% para 34% do PIB.

Uma das grandes apostas, tanto de Moreira Salles como de Ruiz, é a do aumento do financiamento imobiliário. O presidente do Unibanco mostrou que o crédito bancário ao setor representava em 2006 apenas 2% do PIB, em comparação com 11% no México, 18% no Chile e 38% na África do Sul. "Essa será a nossa próxima fronteira". Ele ressalta que houve aperfeiçoamento nos últimos anos de questões regulatórias, além da redução nas taxas de juro.

O crédito desponta como grande oportunidade para o setor financeiro na América Latina, com destaque para financiamentos à pessoa física. Moreira Salles, entretanto, vê outros segmentos com espaço para crescer, como a securitização de ativos, que ainda engatinha no Brasil, o mercado segurador e o de gestão de recursos.

Banqueiros que se reuniram na quinta e na sexta-feira no Rio de Janeiro, no encontro do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), consideraram positivo o fato de que os bancos brasileiros estão sólidos e não perderam dinheiro na crise iniciada no mercado de hipotecas americano. Paradoxalmente, um dos fatores que contribuíram para que as instituições brasileiras tenham passado ao largo da crise é justamente o baixo desenvolvimento dos chamados produtos estruturados, com ativos altamente securitizados. No exterior, é comum o modelo em que após a concessão, os créditos são empacotados, securitizados e vendidos a outros veículos, saindo do balanço dos bancos. No Brasil, predomina a concessão do crédito e sua manutenção no balanço. (CV e RB)