Título: Em gestação novo plano para sustentar as cotações do café
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Agronegócios, p. B10

Os cafeicultores começam a discutir na próxima semana uma proposta que visa unificar a cadeia produtiva de café da América Latina e criar um fundo internacional para o produto, uma espécie de "Funcafé global" - em alusão ao fundo brasileiro - para minimizar as oscilações de preços da commodity no mercado internacional. Encabeçada pelo deputado federal Carlos Melles (PFL/MG), ex-ministro de Esporte e Turismo no governo de Fernando Henrique Cardoso, a proposta estará na mesa nos dias 15 e 16, durante seminário em Brasília que contará com a participação do presidente da Organização Internacional do Café (OIC), Nestor Osório, e de representantes dos principais países produtores, inclusive a Colômbia. Segundo Melles, o fundo internacional funcionaria como um mecanismo estabilizador para as cotações. "Vejo o fundo como forma de estabilizar preços e, sobretudo, financiar o ordenamento da oferta dos países produtores". A proposta chega num momento em que os preços externos do café estão em franca valorização. Nos últimos doze meses, a alta na bolsa de Nova York chega a 56%. Para o deputado, o momento é apropriado e o programa deveria ser adotado para evitar movimentos especulativos no mercado. O levantamento de recursos para o fundo, disse, financiaria os estoques, evitando a pressão de venda em períodos de preços baixos. Segundo Melles, o fundo poderia contar com mais de US$ 1 bilhão. A proposta lembra o fracassado plano global de retenção, criado em 2000. À época, os principais países produtores se comprometeram a estocar café para promover a recuperação dos preços. O plano se revelou um fiasco, principalmente para o Brasil, uma vez que só os cafeicultores do país aderiram à retenção. Também serviu de catapulta para o Vietnã, que avançou sobre o espaço deixado pelo Brasil. A participação dos governos dos países no modelo em gestão seria "como um agente regulatório, normativo e fiscalizador", disse Melles. Ele também defende uma aliança dos países produtores da América Latina para a discussão de políticas comuns do setor e a criação de um centro de inteligência para o café. Em Brasília, as duas propostas foram recebidas com ressalvas. "O governo não está propenso a estimular uma nova retenção", afirmou Linneu da Costa Lima, secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura. Costa Lima reconhece que os países produtores têm problemas comuns, mas ressaltou que é difícil gerir um fundo global. Para Luiz Hafers, presidente da Associação dos Produtores de Café do Paraná (Apac), é complicado propor uma aliança de produtores uma vez que a Colômbia e países centro-americanos fizeram oposição à entrada do Brasil na bolsa de Nova York para a entrega de cafés despolpados. "Esta atitude ilustra a pouca disposição desses países em colaborar", disse o cafeicultor. Na última reunião do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), em janeiro, a proposta de aliança estratégica entre os países latinos já foi rechaçada, lembrou uma fonte do setor. Melles disse que espera críticas, mas que seguirá com a proposta. Segundo ele, há apoio de países produtores. No fim de 2003, a própria OIC cogitou criar um fundo internacional para sustentar as cotações, mas a proposta não foi levada adiante.