Título: América do Sul precisa de acordo de defesa
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Internacional, p. A7

A negociação de mecanismos de cooperação para defesa e segurança entre os países da América do Sul será a melhor maneira de evitar novos incidentes como o que levou à recente crise entre Colômbia e Equador, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao Valor. Ele ressalvou que ainda é cedo para começar a discutir o assunto, embora acredite que foi superada a crise provocada pela invasão do território equatoriano pelas Forças Armadas colombianas em um ataque aos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), no começo do mês.

"Não devemos precipitar soluções mágicas, mas, em algum momento, essas questões têm de ser discutidas, num clima de procurar soluções", disse Amorim. O pior risco, atualmente, é a ocorrência de algum conflito não controlado na fronteira, que possa gerar desentendimentos entre os países envolvidos, acredita o ministro. A criação de acordos para cooperação em segurança e defesa é a melhor forma de afastar esse risco, argumenta.

O governo brasileiro acompanha com atenção os trabalhos da comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) designada para apurar a invasão do território equatoriano por militares colombianos que, há menos de duas semanas, bombardearam um acampamento das Farc e mataram o segundo no comando da guerrilha, Raúl Reyes, interlocutor de governos estrangeiros nas negociações para a libertação de reféns mantidos na selva pela guerrilha.

A comissão, que conta com a presença do representante do Brasil na OEA, o embaixador Omar Choffi, deverá propor medidas para "construção de confiança" entre os dois governos, na vigilância da fronteira. Essa é, pelo menos, a expectativa do governo brasileiro.

Uma reunião de ministros de Relações Exteriores dos países da OEA deverá discutir, no dia 17, os próximos passos a serem seguidos pelos governos da região, em relação à vigilância das fronteiras e à reação contra as incursões da guerrilha nos porosos limites territoriais da selva amazônica.

O Itamaraty comemora os resultados do encontro do chamado Grupo do Rio, na República Dominicana, iniciado com duras acusações entre os presidentes da Colômbia e do Equador, secundados por críticas aos colombianos por parte da Venezuela e da Nicarágua. O encontro foi precedido por um acordo da OEA que condenou, sem nomear a Colômbia, as invasões de territórios por parte de governos vizinhos. Mas terminou, surpreendentemente, com apertos de mãos entre os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, do Equador, Rafael Correa, e da Venezuela, Hugo Chávez.

Para contentamento dos diplomatas brasileiros, que ajudaram a mediar a reaproximação entre os países andinos, a reunião do Grupo do Rio ressuscitou até um encontro que, no fim de semana, todos davam como morto, a reunião de cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), planejada no ano passado para discutir medidas de integração regional e cooperação em temas como o de biocombustíveis.

O presidente Uribe, na presidência temporária da Unasul, anunciou a disposição de realizar o encontro de presidentes do grupo na cidade colombiana de Cartagena, no fim de março. Segundo Amorim, o Brasil apóia a idéia, embora ainda não se saiba se será possível fazer uma reunião de presidentes ou de funcionários graduados dos países sul-americanos.