Título: BB e Caixa também não cumprem a exigência mínima
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Finanças, p. C1

A aplicação obrigatória em microcrédito não está sendo cumprida nem mesmo pelos bancos públicos, que têm a missão de encarar esse segmento não apenas como um produto comercial, mas também como política pública. No Banco do Brasil, as aplicações em microcrédito em dezembro somavam R$ 218 milhões, o que representa pouco mais da metade dos R$ 400 milhões que está obrigado a investir no segmento. A Caixa Econômica Federal tinha uma exigibilidade R$ 103,2 milhões em microcrédito, apurados no período de 12 meses encerrado em novembro de 2004. Suas aplicações médias somaram R$ 36,6 milhões. No BB, as aplicações andaram mais lentas em um primeiro momento porque a instituição decidiu criar uma subsidiária apenas para tratar do segmento de microfinanças - o Banco Popular do Brasil. Após uma fase de operação experimental, a instituição começa a operar com maior escala. Do 1,2 milhão de clientes que abriram contas simplificadas, 200 mil já tomaram empréstimos de microcrédito. "Leva tempo porque, primeiro, foi necessário conhecer essa clientela, para só então oferecer crédito com segurança", disse o diretor de varejo do Banco do Brasil, Edson Monteiro. Paralelamente, explicou, a instituição também fez ofertas ativas - por meio de seus terminais de auto-atendimento - para a clientela do próprio BB que se enquadra no perfil do microcrédito. Apenas para aposentados e pensionistas, o crédito foi oferecido para 1 milhão de pessoas. Deste total, 190 mil pessoas resolveram tomar o empréstimo. "Fizemos uma pesquisa para tentar descobrir porque apenas 20% dos clientes decidiram tomar os empréstimos", disse. "Descobrimos que, para a maioria, a linha de crédito à disposição é vista como um fator de conforto, mas que só deve ser usada em uma situação de infortúnio, numa emergência. Tomar crédito é visto como algo negativo, e vai levar tempo para mudar essa cultura." Um dos desafios enfrentados pelo BB é que, pelo seu volume de direcionamento obrigatório - decorrente da alta captação de depósitos à vista -, o número de operações deve ser gigantesco. Em um ano e meio de programa, foram feitas cerca de 800 mil operações, mas o volume financeiro total é relativamente pequeno, porque o valor médio de cada negócio é de R$ 500. Monteiro sustenta que, para o BB, emprestar para o microcrédito é um bom negócio - pelo menos mais vantajoso do que recolher o dinheiro ao BC. A receita para lucrar, afirma, é a combinação de campanhas de marketing com distribuição por meio dos canais de auto-atendimento, de baixo custo operacional. (AR)