Título: Brasil deverá impor condições se decidir renovar acordo com o FMI
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Finanças, p. C2

O governo brasileiro só deverá decidir em março se renovará ou não o acordo que possui com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No Ministério da Fazenda, a tendência, neste momento, é que o país não feche novo acordo com o Fundo. Esta disposição, no entanto, pode mudar até março, dependendo de como estejam até lá as perspectivas da economia brasileira e da conjuntura internacional. Segundo um assessor graduado do governo, o Fundo Monetário Internacional gostaria que o Brasil renovasse o acordo. Há várias razões para isso. Primeiro, porque o Fundo quer manter a atual relação que possui com o país. O Brasil é praticamente a única experiência bem-sucedida do FMI no enfrentamento de crises financeiras, desde a eclosão da crise asiática, em 1997. "A realidade é que somos hoje a menina dos olhos do Fundo", comentou um assessor. Sendo sua "menina dos olhos", o Fundo Monetário não quer o Brasil fora do seu monitoramento. O que a equipe econômica do governo já decidiu é que, para fechar um novo acordo com o Fundo, o país fará exigências que, geralmente, a instituição não admite. Uma delas, por exemplo, é que o Brasil não esteja mais sujeito às avaliações trimestrais. "Nenhum país com 'investment-grade' (grau de investimento, o mais alto concedido por uma agência de classificação de risco) tem acordo com o FMI. Precisamos ter vantagens para renovar o acordo", disse um assessor do governo. A avaliação é a de que estar sob o guarda-chuva do Fundo, ao mesmo tempo em que dá maior segurança aos credores do país, mostra ao mercado uma certa debilidade. O governo brasileiro quer saber, portanto, o que o Fundo tem a oferecer ao Brasil para melhorar a posição do país no mercado internacional. É esta a missão que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deu a Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional. Levy está em Washington e provavelmente conversará com o FMI sobre as perspectivas de um novo acordo. O Brasil é hoje o maior devedor do Fundo Monetário. Está sob o monitoramento da instituição há seis anos. Nesse período, tomou quatro empréstimos. Aprovado em 2003, o último pacote envolvia a liberação de US$ 15,5 bilhões, mas nenhum centavo foi sacado. O acordo vence em março. Desde 1984, o Brasil tem recorrido ao Fundo, em média, uma vez a cada três anos.