Título: União contra os R$ 545
Autor: Iunes, Ivan; Jerônimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2011, Política, p. 9

REAÇÃO Oposição e PDT ensaiam acordo, que incluiria insatisfeitos com o corte no Orçamento, para aprovar o mínimo de R$ 560. Dilma convocou o ministro do Trabalho para evitar a parceria

A oposição e o PDT costuram um acordo para tentar aprovar o novo salário mínimo em R$ 560, com R$ 15 de adiantamento do reajuste previsto para o ano que vem. A estratégia traçada inclui atrair deputados e senadores insatisfeitos com os cortes no Orçamento anunciados ontem pelo governo. Nos últimos dias, o Palácio do Planalto tem sofrido pressões até de aliados para ampliar o valor defendido pela equipe econômica, que é de R$ 545. Até o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu entrou no circuito de negociações. Ontem, a presidente ainda recebeu o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e jantou com o antecessor Lula. No cardápio, o novo valor do mínimo.

Oficialmente, PSDB, DEM e PPS se articulam para fechar a oposição em torno do mínimo de R$ 600. O líder tucano na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira (PSDB-SP), até protocolou uma emenda prevendo o valor defendido pelo partido durante a campanha eleitoral. Atento à movimentação das bancadas, o PDT ensaia uma aproximação com os três partidos para unir forças contra a proposta do governo. A oposição admite diminuir a pedida a fim de atrair partidos da base aliada para um valor maior. ¿A votação vai ser nitroglicerina pura. A oposição vai se juntar com todo mundo que for possível para conseguir mais de R$ 545¿, admite o líder do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA).

Para tentar conter a costura, Dilma Rousseff chamou o presidente do PDT, Carlos Lupi, ao Palácio do Planalto. O ministro do Trabalho defendeu a posição do partido, de pressionar por um aumento superior ao definido por acordo no ano passado. Nos últimos dias, outros bombeiros acabaram acionados pelas centrais sindicais para tentar negociar um acordo com o governo. Os sindicalistas pediram auxílio do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e do ex-ministro José Dirceu. Embora defendam R$ 580, os sindicalistas já admitem trabalhar para empatar as negociações, o que significaria fechar questão em R$ 560 com apoio da oposição.

Nos partidos mais alinhados ao Planalto, como PT e PMDB, a determinação tem sido seguir de forma cega a posição do governo. ¿A chance de não ajudarmos o governo na votação é zero¿, resume o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS). O PR, que faz parte de um bloco com 64 deputados, garante apoio, mas pede a revisão do valor. ¿O entendimento sobre o mínimo é de que ele deve permanecer em R$ 545, mas o governo permanece fazendo contas, vamos aguardar uma posição final¿, diz o líder da legenda na Câmara, Lincoln Portela (PR-MG).

PSDB reunido Derrotado pela presidente Dilma Rousseff, o tucano José Serra (PSDB) pediu à bancada tucana na Câmara que não aceite a imposição do governo em estabelecer em R$ 545 o salário mínimo de 2011. O adversário de Dilma nas eleições acusou o governo de utilizar a liberação de emendas parlamentares como moeda de troca para aprovação do novo salário mínimo. ¿É desmoralizante para o Congresso que as emendas sejam utilizadas dessa maneira facciosa¿, afirmou.

O candidato derrotado à Presidência também se ofereceu para explicar aos senadores como chegou à cifra de R$ 600 para o mínimo, promessa da época da campanha eleitoral. O senador Itamar Franco (PPS-MG) já teria feito um convite para que ele fizesse uma exposição sobre o cálculo. ¿Se eu for convocado, virei com todo o gosto e apresentarei as principais questões que me fizeram apresentar essa proposta. Falarei não só do mínimo, como de questões econômicas¿, ofereceu Serra.

Mais um mandamento Em meio à turbulência pela sucessão no PSDB, José Serra veio, ontem, à reunião da bancada tucana na Câmara para tentar diminuir o apoio dos parlamentares à reeleição de Sérgio Guerra, presidente nacional do partido. Ele criou um 11º mandamento para pregar a unidade do partido. ¿Tucano não fala mal de tucano, nós temos um adversário¿, pediu Serra. O candidato derrotado à Presidência ainda chamou a movimentação pelas reformas políticas e tributárias de ¿encher linguiça¿.

Alckmin anuncia R$ 600 para SP O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou, ontem, que o valor do salário mínimo no estado será de R$ 600, que valerá para todas as categorias que não têm acordo coletivo. O valor atual é de R$ 560. A estimativa é de que 1,4 milhão de trabalhadores sejam beneficiados com o reajuste. Alckmin também divulgou que o piso do funcionalismo do estado será de R$ 630 ¿ atualmente, são R$ 590. As duas medidas serão enviadas à Assembleia Legislativa como projeto de lei.